quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Basta pouco!

     E o pouco já é "um tanto" tão  bom!!!
     Pois é... estou aproveitando meu(s) ano(s) sabáticos (resolvi chamar assim pra me sentir menos inútil! rsrs) e fazendo muitas coisas que eu sempre quis e, teoricamente, quase nunca tive muito tempo de fazer. Ando lendo mais que antes, porém, menos do que gostaria; ando escrevendo (um pouquinho mais) algumas "bobagens" que alguns de vocês bondosamente gastam tempo lendo e alguns ainda se dão ao gentil trabalho de comentar aqui e acolá, o que muito me alegra e encoraja; ando crochetando (aliás, depois de décadas desejando, consegui aprender! Eu só sabia tricotar. Mas "taí" duas coisas que me fazem sentar por horas a fio! Amo! - e que a minha fisioterapeuta não leia isso!!!); e, além de "tudo isso" e outras coisinhas mais, como cuidar da Lola (a cachorra), da casa e "tals", ainda tenho visto séries na Netflix!
     Na verdade, elas são as culpadas de eu estar lendo menos do que gostaria, escrevendo menos do que sinto vontade e fazendo mais crochet do que deveria em frente à TV, já que crochetar pode me causar uma dorzinha aqui e outra acolá (eufemismos à parte, permitam-me... já fiz cinquenta!)
     Bem, já vi várias séries que me agradaram. O problema é que sou meio compulsiva com as coisas das quais eu gosto, me distraio muito facilmente com coisas inúteis e tenho um problema sério de procrastinação... daí vocês podem povoar o imaginário de vocês com as consequências que brotam desse ser tão intenso e inconstante! Vou denunciar uma delas: uma série com cinco temporadas, cada uma com 15 a 20 episódios, pode durar apenas um mês ou menos! 😱
     Há um ano uma amiga do pilates me recomendou a série "Call the Midwife". Na época, estava envolvida com duas outras séries, uma que via com o marido pra relaxar junto e outra que via só, pra relaxar só! Nem me lembro direito quais! Quando uma delas acabou, resolvi seguir o conselho da minha amiga Lúcia, do pilates. Vi o primeiro episódio... e não me cativou de primeira. Acredito que por causa da natureza das outras séries que eu tinha acabado de ver. Ficou pra depois!
     Bem, o depois chegou. Já estou na quarta temporada e eu chorei em TODOS os episódios até agora! Cada episódio mexe comigo de maneira diferente. Às vezes choro de soluçar, às vezes os olhos só lacrimejam, mas nenhum passa em branco! Na verdade, nunca consegui ver um vídeo de bebê nascendo e sair ilesa! Sempre me emociono! Mas na série a emoção não é só por causa dos bebês, mas de vários outros detalhes que demonstram uma sensibilidade linda que comovem! Fora que, ao acompanhar o dia a dia das freiras, bate aquela saudade do tempo maior de meditação que não tenho tido... (Não! Não estou sendo paga pela BBC e nem pela Netflix pra "propagandear"!)
     Mas onde quero mesmo chegar é no meu momento e no primeiro episódio da quarta temporada.
     Ultimamente tenho me sentido mais do que nunca "como criança" na presença do Pai e feito várias questões ao meu Senhor, coisas que achei que nunca mais perguntaria a Ele, questões infantis mesmo! Depois que você caminha anos a fio na fé, lê e estuda muito a Bíblia, ouve horas acumuladas de excelentes (outras nem tanto) pregações, bate "papo cabeça" com gente séria e que entende da coisa, gasta tempo com meditar na Palavra, lê excelentes (outros nem tanto) livros, trabalha intensamente "na obra para a expansão do Reino de Deus" e coisas afins, a gente acha (só acha!) que sabe alguma coisa e que algumas questões não deveriam mais ficar sem resposta. Aí se depara com certas questões que parecem de uma infantilidade sem tamanho, mas que na verdade ficaram escondidinhas lá dentro e nunca foram respondidas. A gente esbarra na nossa prepotência e abaixa a crista! A gente começa a duvidar das nossas certezas. E nos três últimos anos, longe do "campo de batalha", realmente nos bastidores, tenho me permitido tais questões, inclusive questionando muitas convicções, sem nenhuma censura e com muita liberdade no meu coração! Que delícia!
     Calma! Não quero me tornar uma freira anglicana como as que há na série, mesmo porque me faltam convicção e vocação (rá!), porém não a admiração!
     Contextualizando: Na série há um convento anglicano onde moram freiras e enfermeiras, todas parteiras, que compartilham suas vidas ali. Se passa na década de 50.
     Nesse primeiro episódio da quarta temporada, uma das enfermeiras faz questionamentos se seria vocacionada. Ela está tentada a vestir o hábito e, com tranquilidade, porém querendo decidir, ela se questiona!
     Aí vêm duas cenas maravilhosas nas quais pude sentir o hálito do Espírito Santo soprando na minha direção.
     Desculpe a pieguice, mas vou ter que descrever as cenas, senão minhas palavras não terão sentido.
     Na primeira cena, depois que a irmã superiora machuca sua mão e não consegue dormir por causa da dor, ela sai à procura de uma aspirina. Ela, então, encontra a enfermeira na capela e se dá mais ou menos o seguinte diálogo:

E - Eu não conseguia dormir.
I - Eu também não. Estava indo buscar aspirinas.
E - Para a sua mão?
I - A dor pode ser um sinal de que o ferimento está fechando. Vai passar!
E - Eu fico pensando que vai passar.
I - O seu questionamento?
E - A vontade. Eu nunca desejei algo tanto assim em minha vida.
I - Me parece que se é isso que está sentindo, o questionamento acabou.
E - Mas... não sei porque Ele me quer, Irmã. Não tenho nada pra dar. Nada pra sacrificar ou oferecer em troca de todo o amor Dele.
I - Uma vez eu pensei que sabia o que Deus planejava pra mim. Mas eu não sabia. Eu pensava que sabia o que era amor. Mas não sabia. A certeza é fugaz. É por isso que devemos ter fé!
(os grifos são por minha conta!)

     Pára tudo!!! Volta a "fita" e vê tudo de novo!
          1) Temos que aprender a "ler" as nossas dores! Elas podem nos conduzir a curas autênticas! Elas nos revelam nossa fraqueza e nossa força ao mesmo tempo! Ela nos indica que somos movidos pelos nossos afetos, pelos envolvimento que temos ou deixamos de ter com algo ou alguém, elas nos revelam quão sérios são os nossos compromissos... Se não há dor é porque, provavelmente, não houve afeto, não houve envolvimento, não houve compromisso! Parei, chorei e agradeci ao Pai cada dor já sentida no corpo e na alma! Não de forma masoquista ou pseudo-piedosa, mas com rara gratidão no coração! Estou viva e me permito, talvez não sempre, mas com frequência, experienciar intensamente todos os meus afetos!
          2) Tive a nítida certeza de que, se antes sentia que não tinha nada para oferecer a Jesus, hoje tenho menos ainda. Hoje ando mais cética, mais preguiçosa, mais acomodada, mais preconceituosa, menos compassiva e menos tolerante. Uéé? Mas Ele não me transformou? Claro! Ele mudou tudo em mim, mas não é em todo o tempo que dou o retorno devido e, ultimamente, é mais a velha Marô mesmo que emerge com frequência, infelizmente! Contraditório? Quem sabe?! Talvez seja tão somente uma maior consciência de quem realmente sou, sem perder de vista a busca por me tornar alguém melhor... conjecturas da vida!
          3) Mas aí vem a afirmação da Irmã... Achei simplesmente fantástico! A certeza é fugaz, minha gente!!! Já pensou afirmar isso nos dias de hoje? É querer levar chumbo! Mas é exatamente isso! Fora que as nossas "certezas" ainda podem nos levar à arrogância, à soberba! Parei e orei. Pedi ao Pai fé! E acrescentei: "E que esta gere no meu coração amor profundo por ti todos os dias, para que eu viva sem tantas certezas e de acordo com a transformação que já recebi de Ti, por meio do Teu Amor!"
     A outra cena que me impactou e que, na sequência do episódio faz com que a enfermeira se decida, foi a seguinte:
     A enfermeira está tentando ajudar um casal de meia-idade que vivia numa casa de acolhimento às pessoas pobres com dificuldades e pertubações mentais e emocionais. A casa fora fechada e eles estavam vivendo precariamente. A mulher acha que está grávida, o que seria para ela um consolo, mas na verdade não está. Quando recebe esta notícia, sai correndo pra rua tentando fugir da sua tristeza. O marido corre atrás dela e também a enfermeira, que acaba se deparando com um lindo diálogo entre marido e mulher.

     O homem grita:
- Eu te amo!
     Ele a alcança, os dois se sentam largados no chão e ela diz:
- Não diga que me ama! Por favor querido, não diga que me ama!
- Não diga isso.
- Mas não posso lhe dar nada. Não posso preencher nenhuma necessidade.
- Você me dá o que pode. Eu lhe dou o que posso. Minha benção é que você me permita isso. Não peço mais nada e nós dois nos tornamos completos!

     Percebeu? Entendeu?
     Fiquei inerte e depois recolhendo os caquinhos que se espalharam com o golpe no coração! (quanto drama! rs) Mas é verdade! Os paralelos foram traçados! Me emocionei porque ouvi a voz do meu Pai falando comigo: "Me permita te dar tudo o que tenho! Me permita somente te Amar com meu Amor Incondicional!"
     Assim como aquela mulher, nossa tendência é nos constrangermos! Infinitas vezes já me senti constrangida com esse maravilhoso Amor, porque o senti no canto mais profundo da minha alma, sem dele me sentir merecedora! "Como assim Ele me ama???" é uma reação bem conhecida minha!
Eu, de fato, não posso e nada tenho para oferecer ao meu Senhor, a não ser minha infidelidade, minha carência, minhas dúvidas, minha inconstância...
     Muitas vezes quando Ele fala tão claramente "Eu te amo", a minha reação imatura é responder: "Como assim? Eu não mereço o Seu amor! Pára, porque isso me constrange!"
     E o ouço retrucando:
     "Permita-me apenas te dar o que eu posso e quero te dar! Permita-me estar contigo! Permita-nos ter comunhão! Isso me basta! Isso te bastará!"

     E então nenhuma questão mais importa...

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