segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Retalho de um cotidiano

     Andava entediado.
     Uma  certa sensação de fastio da vida. E que não viessem perguntar o porquê!
     Nesse dia as coisas pareciam ainda piores. O dia parecia mais feio. A gata parecia mais arredia. O Seu Dirceu da padaria parecia mais carrancudo e o pai parecia mais bravo do que de costume.
     Só a vó... só ela continuava com o mesmo olhar doce e amoroso e com o colo aconchegante, que foi onde ele resolveu buscar certo acolhimento.
     A vó não perguntou nada, porque já sabia. Ela sempre sabia. A vó apenas sussurrou uma canção que, de alguma maneira, fez um afago no coração do menino que se aninhou ainda mais.
     Sempre pensei em avós como anjos, desses que Deus modela com muito cuidado e com dose cavalar de amor e compreensão. Dizem que mãe tem sexto sentido... e eu diria que vó tem sétimo!!! Elas sabem de tudo o que se passa dentro da gente! Pelo menos essas, que se deixaram moldar pra serem anjos!
     O menino tanto se aninhou ali, que acabou cochilando. E sonhou...
     O bom dos sonhos é que não precisam ter sentido algum, nem pra nós, nem pra ninguém. O bom também é que a gente pode consertar tudo de errado quando sonhamos. E mesmo que a solução seja passageira e dure apenas até a gente acordar, nos sentimos aliviados do peso da vida por algum tempo... fora que podemos voltar a sonhar!
     E ele sonhou...
     Via sua mãe, vestida como se fosse pra festa. - Como estou? - ela lhe perguntava; e ele respondia - Linda como sempre! E os dois sorriam, davam as mãos e saíam andando juntos, iam ficando pequenininhos, pequenininhos até sumirem.
     Ele despertou esboçando um discreto sorriso, abriu os olhos e viu os olhos sorridentes da vó, que lhe perguntou:
- Estava sonhando?
- Sim
- E era bom, né?
- Mamãe estava linda! Íamos pra festa juntos!
- Ela vai voltar, não se preocupe.
- Tô com saudades, vó!
- Eu sei... também estou...
- Será que ela pensa em nós? Será que ela sente saudade de mim?
- Com certeza! Quem uma vez aprendeu a te amar, quando estiver longe sempre vai sentir saudades!
- Não sei...
- Vamos lá comer o bolo que a Tinãna fez?
- Não sei...
- Mas você gosta tanto dos bolos dela! Vamos!
- A Tinãna é nossa parenta, vó?
- Não, por quê?
- Só passou pela cabeça. Você sempre conta que ela mora aqui há tanto tempo.
- É, nesse caso é como se fosse mesmo, né?
- Vó? ...
- Oi?
- Que cor tem a tristeza?
- Cinza, será?
- Estou me sentindo cinza hoje!
- É só a saudade. Vai passar! E se a gente for comer o bolo, passa mais rápido ainda!
- Vó, e a alegria?
- Azul? Não sei... acho que a alegria é colorida!
- É, faz sentido! Queria me sentir mais colorido de vez em quando!
- E como você acha que isso pode acontecer?
- Não sei. Talvez tentando colorir cada dia cinza com uma cor diferente que aparecer, até misturar tudo e ficar colorido!
- Sabe de uma coisa? Você é colorido pra mim! Mesmo quando você diz que se sente cinza!
- Vó? ...
- Oi?
- Obrigado!
- Como assim?
- Você acabou de me dar uma cor! E hoje à noite, quando eu sonhar de novo com a mamãe, vou ter mais uma, quem sabe duas ou mais? E se o papai não estiver bravo comigo amanhã, eu junto outra ainda... É, acho que nem vai ser tão difícil, né?
- Viu? Vem com a vó! Vamos lá comer o bolo e, quem sabe, a gente não encontra outras cores pelo caminho?

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Basta pouco!

     E o pouco já é "um tanto" tão  bom!!!
     Pois é... estou aproveitando meu(s) ano(s) sabáticos (resolvi chamar assim pra me sentir menos inútil! rsrs) e fazendo muitas coisas que eu sempre quis e, teoricamente, quase nunca tive muito tempo de fazer. Ando lendo mais que antes, porém, menos do que gostaria; ando escrevendo (um pouquinho mais) algumas "bobagens" que alguns de vocês bondosamente gastam tempo lendo e alguns ainda se dão ao gentil trabalho de comentar aqui e acolá, o que muito me alegra e encoraja; ando crochetando (aliás, depois de décadas desejando, consegui aprender! Eu só sabia tricotar. Mas "taí" duas coisas que me fazem sentar por horas a fio! Amo! - e que a minha fisioterapeuta não leia isso!!!); e, além de "tudo isso" e outras coisinhas mais, como cuidar da Lola (a cachorra), da casa e "tals", ainda tenho visto séries na Netflix!
     Na verdade, elas são as culpadas de eu estar lendo menos do que gostaria, escrevendo menos do que sinto vontade e fazendo mais crochet do que deveria em frente à TV, já que crochetar pode me causar uma dorzinha aqui e outra acolá (eufemismos à parte, permitam-me... já fiz cinquenta!)
     Bem, já vi várias séries que me agradaram. O problema é que sou meio compulsiva com as coisas das quais eu gosto, me distraio muito facilmente com coisas inúteis e tenho um problema sério de procrastinação... daí vocês podem povoar o imaginário de vocês com as consequências que brotam desse ser tão intenso e inconstante! Vou denunciar uma delas: uma série com cinco temporadas, cada uma com 15 a 20 episódios, pode durar apenas um mês ou menos! 😱
     Há um ano uma amiga do pilates me recomendou a série "Call the Midwife". Na época, estava envolvida com duas outras séries, uma que via com o marido pra relaxar junto e outra que via só, pra relaxar só! Nem me lembro direito quais! Quando uma delas acabou, resolvi seguir o conselho da minha amiga Lúcia, do pilates. Vi o primeiro episódio... e não me cativou de primeira. Acredito que por causa da natureza das outras séries que eu tinha acabado de ver. Ficou pra depois!
     Bem, o depois chegou. Já estou na quarta temporada e eu chorei em TODOS os episódios até agora! Cada episódio mexe comigo de maneira diferente. Às vezes choro de soluçar, às vezes os olhos só lacrimejam, mas nenhum passa em branco! Na verdade, nunca consegui ver um vídeo de bebê nascendo e sair ilesa! Sempre me emociono! Mas na série a emoção não é só por causa dos bebês, mas de vários outros detalhes que demonstram uma sensibilidade linda que comovem! Fora que, ao acompanhar o dia a dia das freiras, bate aquela saudade do tempo maior de meditação que não tenho tido... (Não! Não estou sendo paga pela BBC e nem pela Netflix pra "propagandear"!)
     Mas onde quero mesmo chegar é no meu momento e no primeiro episódio da quarta temporada.
     Ultimamente tenho me sentido mais do que nunca "como criança" na presença do Pai e feito várias questões ao meu Senhor, coisas que achei que nunca mais perguntaria a Ele, questões infantis mesmo! Depois que você caminha anos a fio na fé, lê e estuda muito a Bíblia, ouve horas acumuladas de excelentes (outras nem tanto) pregações, bate "papo cabeça" com gente séria e que entende da coisa, gasta tempo com meditar na Palavra, lê excelentes (outros nem tanto) livros, trabalha intensamente "na obra para a expansão do Reino de Deus" e coisas afins, a gente acha (só acha!) que sabe alguma coisa e que algumas questões não deveriam mais ficar sem resposta. Aí se depara com certas questões que parecem de uma infantilidade sem tamanho, mas que na verdade ficaram escondidinhas lá dentro e nunca foram respondidas. A gente esbarra na nossa prepotência e abaixa a crista! A gente começa a duvidar das nossas certezas. E nos três últimos anos, longe do "campo de batalha", realmente nos bastidores, tenho me permitido tais questões, inclusive questionando muitas convicções, sem nenhuma censura e com muita liberdade no meu coração! Que delícia!
     Calma! Não quero me tornar uma freira anglicana como as que há na série, mesmo porque me faltam convicção e vocação (rá!), porém não a admiração!
     Contextualizando: Na série há um convento anglicano onde moram freiras e enfermeiras, todas parteiras, que compartilham suas vidas ali. Se passa na década de 50.
     Nesse primeiro episódio da quarta temporada, uma das enfermeiras faz questionamentos se seria vocacionada. Ela está tentada a vestir o hábito e, com tranquilidade, porém querendo decidir, ela se questiona!
     Aí vêm duas cenas maravilhosas nas quais pude sentir o hálito do Espírito Santo soprando na minha direção.
     Desculpe a pieguice, mas vou ter que descrever as cenas, senão minhas palavras não terão sentido.
     Na primeira cena, depois que a irmã superiora machuca sua mão e não consegue dormir por causa da dor, ela sai à procura de uma aspirina. Ela, então, encontra a enfermeira na capela e se dá mais ou menos o seguinte diálogo:

E - Eu não conseguia dormir.
I - Eu também não. Estava indo buscar aspirinas.
E - Para a sua mão?
I - A dor pode ser um sinal de que o ferimento está fechando. Vai passar!
E - Eu fico pensando que vai passar.
I - O seu questionamento?
E - A vontade. Eu nunca desejei algo tanto assim em minha vida.
I - Me parece que se é isso que está sentindo, o questionamento acabou.
E - Mas... não sei porque Ele me quer, Irmã. Não tenho nada pra dar. Nada pra sacrificar ou oferecer em troca de todo o amor Dele.
I - Uma vez eu pensei que sabia o que Deus planejava pra mim. Mas eu não sabia. Eu pensava que sabia o que era amor. Mas não sabia. A certeza é fugaz. É por isso que devemos ter fé!
(os grifos são por minha conta!)

     Pára tudo!!! Volta a "fita" e vê tudo de novo!
          1) Temos que aprender a "ler" as nossas dores! Elas podem nos conduzir a curas autênticas! Elas nos revelam nossa fraqueza e nossa força ao mesmo tempo! Ela nos indica que somos movidos pelos nossos afetos, pelos envolvimento que temos ou deixamos de ter com algo ou alguém, elas nos revelam quão sérios são os nossos compromissos... Se não há dor é porque, provavelmente, não houve afeto, não houve envolvimento, não houve compromisso! Parei, chorei e agradeci ao Pai cada dor já sentida no corpo e na alma! Não de forma masoquista ou pseudo-piedosa, mas com rara gratidão no coração! Estou viva e me permito, talvez não sempre, mas com frequência, experienciar intensamente todos os meus afetos!
          2) Tive a nítida certeza de que, se antes sentia que não tinha nada para oferecer a Jesus, hoje tenho menos ainda. Hoje ando mais cética, mais preguiçosa, mais acomodada, mais preconceituosa, menos compassiva e menos tolerante. Uéé? Mas Ele não me transformou? Claro! Ele mudou tudo em mim, mas não é em todo o tempo que dou o retorno devido e, ultimamente, é mais a velha Marô mesmo que emerge com frequência, infelizmente! Contraditório? Quem sabe?! Talvez seja tão somente uma maior consciência de quem realmente sou, sem perder de vista a busca por me tornar alguém melhor... conjecturas da vida!
          3) Mas aí vem a afirmação da Irmã... Achei simplesmente fantástico! A certeza é fugaz, minha gente!!! Já pensou afirmar isso nos dias de hoje? É querer levar chumbo! Mas é exatamente isso! Fora que as nossas "certezas" ainda podem nos levar à arrogância, à soberba! Parei e orei. Pedi ao Pai fé! E acrescentei: "E que esta gere no meu coração amor profundo por ti todos os dias, para que eu viva sem tantas certezas e de acordo com a transformação que já recebi de Ti, por meio do Teu Amor!"
     A outra cena que me impactou e que, na sequência do episódio faz com que a enfermeira se decida, foi a seguinte:
     A enfermeira está tentando ajudar um casal de meia-idade que vivia numa casa de acolhimento às pessoas pobres com dificuldades e pertubações mentais e emocionais. A casa fora fechada e eles estavam vivendo precariamente. A mulher acha que está grávida, o que seria para ela um consolo, mas na verdade não está. Quando recebe esta notícia, sai correndo pra rua tentando fugir da sua tristeza. O marido corre atrás dela e também a enfermeira, que acaba se deparando com um lindo diálogo entre marido e mulher.

     O homem grita:
- Eu te amo!
     Ele a alcança, os dois se sentam largados no chão e ela diz:
- Não diga que me ama! Por favor querido, não diga que me ama!
- Não diga isso.
- Mas não posso lhe dar nada. Não posso preencher nenhuma necessidade.
- Você me dá o que pode. Eu lhe dou o que posso. Minha benção é que você me permita isso. Não peço mais nada e nós dois nos tornamos completos!

     Percebeu? Entendeu?
     Fiquei inerte e depois recolhendo os caquinhos que se espalharam com o golpe no coração! (quanto drama! rs) Mas é verdade! Os paralelos foram traçados! Me emocionei porque ouvi a voz do meu Pai falando comigo: "Me permita te dar tudo o que tenho! Me permita somente te Amar com meu Amor Incondicional!"
     Assim como aquela mulher, nossa tendência é nos constrangermos! Infinitas vezes já me senti constrangida com esse maravilhoso Amor, porque o senti no canto mais profundo da minha alma, sem dele me sentir merecedora! "Como assim Ele me ama???" é uma reação bem conhecida minha!
Eu, de fato, não posso e nada tenho para oferecer ao meu Senhor, a não ser minha infidelidade, minha carência, minhas dúvidas, minha inconstância...
     Muitas vezes quando Ele fala tão claramente "Eu te amo", a minha reação imatura é responder: "Como assim? Eu não mereço o Seu amor! Pára, porque isso me constrange!"
     E o ouço retrucando:
     "Permita-me apenas te dar o que eu posso e quero te dar! Permita-me estar contigo! Permita-nos ter comunhão! Isso me basta! Isso te bastará!"

     E então nenhuma questão mais importa...

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Ah se eu tivesse asas...

     Ontem um pombo cagou na minha cabeça!
     Ontem o Trump foi eleito presidente dos EUA!
     O que uma coisa tem a ver com a outra?
     NADA!
     A não ser que você acredite em presságios ou coisa do tipo! Mas nem assim, porque quando da arte do pombo, o Trump já era presidente...
     Mas teve a observação do meu cunhado alemão que mora na América, quando eu indignada reclamei do pombo: "Isso não foi nada Marô. Por aqui foi uma águia que cagou em cima dos EUA inteiro e isso vai feder por quatro anos!"
     Sim, porque reclamei que a coisa fedia muito - O cocô do pombo, claro!
     Minha mãe me disse que "é sorte"! Só não entendi ainda de quem...
     Isso nunca tinha me acontecido antes; e me senti tão humilhada, fiquei tão indignada quando vi aquele pombo me olhando com aquela cara de "peguei mais uma" que tive vontade de sair correndo atrás dele para dar-lhe um belo dum safanão... o problema é que eu não nasci com asas!
     E fui caminhando, pensando se voltava pra casa ou se cumpria minhas intenções quando saí... e continuei andando passando no cabelo um saco plástico (que seria destinado para o cocô, não do pombo, porque ninguém sai de casa com um saco plástico prevendo que o um pombo vai usar a sua cabeça como banheiro, mas da cachorra, com quem eu passeava) pra ver se conseguia tirar aquele troço nojento da minha cabeça. E o trem fedia!!! Fedia muito e eu fazia vômito!
     Naquele intervalo resolvi voltar pra casa e desisti umas 15 vezes, até chegar na farmácia, outro destino planejado, onde a atendente me deu um papel toalha e me ajudou a melhorar um pouquinho a situação. A vontade de meter a cabeça embaixo do chuveiro era incontrolável...
     E fiquei me lembrando de uma história de quando meu marido era pequeno, talvez com uns 8 anos. Ele morava numa casa com um quintal cheio de árvores, terra... essas coisas gostosas de tempos atrás! Ele costumava brincar com seus carrinhos nesse quintal. Construía estradas, fazia túneis e garagens para guardar os carrinhos. Após alguns dias de chuva, ele foi ao quintal pra procurar seus carrinhos que estavam em um dos "túneis" por ele construído e, ao colocar a mão lá dentro, sentiu uma coisa gelada e úmida. Tirou a mão rápido e viu um sapão saindo lá de dentro! Levou um susto e saiu correndo aos prantos, com o braço estendido, mantendo a mão o mais longe possível do corpo e gritando: "Corta a minha mão! Corta a minha mão! Eu não quero mais a minha mão!"
     E o que isto tem a ver com a história do pombo?
    TUDO! "Corta a minha cabeça! Eu não quero mais a minha cabeça!", foi o que tive vontade de gritar naquele momento, só que eu não sou criança e cabeça é muito diferente de mão né? Rá! (Se é!). Provavelmente seria levada para um manicômio, só não sei se com ou sem cabeça! Mas com as mãos, certamente!
     Mas se eu tivesse asas... ah, se eu tivesse asas!!!
     Pelo menos serviu pra mudar o tom triste e melancólico das últimas postagens...
     E a cabeça ainda está por aqui - eu acho! - porém agora limpa e cheirosa novamente!

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Um dia não haverá mais morte!

   
     Frau Hilbers era o nome dela.
     Quando cheguei no prédio e a vi pela primeira vez, fiquei com o olhar parado sem acreditar naquele cabelo todo cinza esculpido para cima, num penteado que me fazia pensar que talvez fosse alguma caracterização. Mas não... eram os cabelos dela mesmo! Paciente e cuidadosamente penteados para cima!
     Ficava eu imaginando quantas horas ela devia gastar pra fazer aquilo todo santo dia!
     Uma vez Júlia, minha filha mais nova, com seus 4 ou 5 anos, bateu em horário inapropiado na casa dela e veio toda feliz contando que tinha visto a Frau Hilbers de camisola longa e cabelo solto. Contava eufórica que o cabelo era muito comprido, liso e cinza! Tive que rir da Júlia. Acho que ela devia achar que era peruca ou sei lá! Me lembro vagamente dela perguntando pra Frau Hilbers porque ela fazia aquilo no cabelo dela!

     Logo que chegamos, quem nos recebeu mesmo foi uma outra senhora, que morava numa quitinete entre o nosso apartamento e o da Frau Hilbers. Era a Frau Weise. Percebi que as duas se encontravam quase todas as tardes na casa de uma delas para tomar cerveja. Duas ou três vezes estive com as duas na casa da Frau Weise, que com muita amabilidade chamava minhas filhas para lhes oferecer algum quitute e eu ia junto.
     Frau Weise logo se foi! Foi morar com os filhos, nos deixando dois móveis, muito úteis por sinal! Ficamos, então, nós e a Frau Hilbers naquele andar. Percebi que ela se entristeceu com a partida da vizinha de longa data.
     Depois chegou o Herr Abraham para morar na quitinete, mas aí já é outro capítulo!
   
     Sempre que nos encontrávamos no corredor ou nas escadas, ela nos parava e conversava muito. No começo eu não entendia nada, e ela, percebendo, conversava com as crianças, mas sempre tentando se comunicar comigo. Uma vez me disse para que eu me matriculasse no "Kindergarten", pois reparou que a Júlia, depois que começou a frequentar a escolinha aprendeu o alemão com muita rapidez! Frau Hilbers tinha bom humor e gargalhada gostosa, sem deixar porém de ser alemã!

     Descobrimos logo um ponto em comum: Ela amava cachorros! Sempre tinha alguns hospedados em sua casa e sempre batia lá em casa pra me apresentar seu novo hóspede ou pra "Paulinha" me dar bom dia! Quando não eram os hóspedes, eram os passeios! Ela se oferecia para passear com cachorros de amigos ou conhecidos. A "Paula" era a adorada dela, uma Dackel de uma de suas amigas que se parecia muito com uma que ela tinha tido e da qual não cansava de me mostrar fotos, contando sobre suas peripécias!

     Ela fazia aniversário no dia 31 de julho. Uma vez me enganei e levei a família toda no dia 30 pra porta dela, com presente, bolo e vela na mão e tocamos a campainha... ela abriu, deu um grito desesperado e fechou a porta na nossa cara dizendo: "Ach du meine Güte! Heute nicht! Das darf man nicht!" (Minha nossa! Hoje não! Não pode!). Ficamos sem entender tamanha grosseria, até que a ficha caiu! Na Alemanha as pessoas não comemoram o aniversário antes da data de maneira nenhuma! "Dá azar"! É estranho e inaceitável que alguém assim o faça!
     Voltamos no dia seguinte, mas ela porém já nos esperava! A surpresa perdeu totalmente a graça! Fora que tive que fazer outro bolo!

     Teve um dia que ela tocou a nossa campainha insistentemente. Abri a porta assustada e ela gritava, com lágrimas nos olhos: "Ein Vogel! Er stirbt wenn wir nichts machen! Ich kann das nicht! Bitte, bitte, hilf mir!" - Era um passarinho! Ele tinha entrado na sala pela varanda e não conseguia sair, e estava batendo no vidro. Ela não conseguia pegar o passarinho, ela tinha agonia, mas não queria que ele morresse e pediu que eu fizesse alguma coisa. Consegui salvá-lo, pra alívio de todos!

     A casa dela era cheia, mas muito cheia de bibelôs e pequenas bugingangas. Era também impecavelmente arrumada, pelo menos nas vezes em que entramos lá! No aniversário das meninas (e também no meu!) ela escolhia um daqueles bibelôs, comprava "Gummi Bärchen" (as balinhas de gelatina que minhas filhas até hoje amam) e deixava junto com o bibelô na nossa porta como presente pra elas! Claro que as meninas se alegravam mais ou quase somente com as balinhas... Alguns desses bibelôs tenho ainda comigo, como lembrança!

     Andava sempre muito bem arrumada, a começar, como podem ver, pelos cabelos! Uma vez consegui fotografá-la antes de sair para algum dos seus compromissos. Ela estava "toda chique", com colarzinho de pérolas e tudo; e ficou toda orgulhosa porque eu quis fotografá-la!

     Depois de muitos meses morando ali, ela me convidou pra tomar uma cerveja na casa dela. Ela gostava de tomar a cervejinha dela à tarde, coisas de alemão! Pensei que poderia ser uma boa maneira de nos aproximarmos mais e também de lhe fazer companhia e ouvi-la. Achava-a muito só! Aceitei. Depois dessa vez, me convidou algumas vezes mais, ora na casa dela, ora lá em casa. Se eu estivesse com as crianças, ela preferia lá em casa. Percebi, então, que ela fez daquilo um compromisso que, de mensal passou a ser quinzenal e depois semanal... toda terça-feira, lá pelas três ou três e meia da tarde a campainha tocava, eu abria a porta e lá estava a Frau Hilbers com duas latinhas de cerveja na mão e dois copos. Alemão tem um copo específico para cada tipo de cerveja. Uma vez ela trouxe, como me prometera, a cerveja berlinense (ela era de Berlin), aquela que se toma com "xarope", e trouxe junto as taças especiais pra essa cerveja e o canudinho! Me serviu mostrando toda orgulhosa como se preparava e como se bebia. Foi assim que conheci a Berliner Weisse!

     Ela amava a sopa de "ervilhas" do Zilbinho, meu marido. Pedia sempre que ele fizesse pra ela. E o Herr De Paula atendia ao desejo da velha senhora! Até que, nos nossos últimos dias por lá, ele foi passar a receita pra ela e ela descobriu que não era sopa de ervilhas, e sim de lentilhas... e ela detestava lentilhas! Rimos muito junto com ela dessa história!
     Para o Herr De Paula ela também deixava toda tarde o jornal "Bild" na porta. Ela lia todo santo dia e depois passava pra gente. Dizia que era um alemão mais fácil de entender! O jornal pingava sangue! Era desses bem sensacionalistas e com muita fofoca! Ríamos muito de tudo isso, mas a linguagem realmente era bem mais fácil do que a de outros jornais!
      Ela soube então, que eu estava prestes a fazer a prova de proficiência do alemão pra começar meu mestrado. Aí é que achou que o jornal podia mesmo ajudar! Não falhava um dia! E no dia da prova, saindo de casa, ouvi a porta dela se abrir. Ela apontou o rosto na porta com um sorriso e me disse: "Vai dar tudo certo! Fique calma!". Então ouvi pela primeira vez a expressão "Ich drücke dir die Daumen", a qual fui tentando decifrar pelo caminho e que, fiquei sabendo logo depois, quer dizer "Estarei torcendo por você", apesar de a tradução literal ser "Estou apertando o dedão por você"!!!

     Tínhamos uma "inimiga" em comum, mas era uma história triste pra mim. Nossa vizinha, Frau Rittendorf, que era uma figura muito estranha e que morava embaixo do nosso apartamento, teria sido por longo tempo uma grande amiga da Frau Hilbers. Algo aconteceu entre as duas que as fez inimigas uma da outra. Era alguma coisa relacionada à mãe de cada uma delas. É certo que a Frau Rittendorf tornou a nossa vida um pouco mais difícil em alguns momentos e a Frau Hilbers não se conformava com a maneira como ela nos tratava, por sermos estrangeiros e termos crianças em casa. Frau Hilbers a chamava de louca, demente, insuportável e outros adjetivos mais. E eu ficava torcendo muito para que as duas se entendessem um dia... acho que isso nunca aconteceu, infelizmente! Em tempo: Nos nossos últimos dias no apartamento, Frau Rittendorf me chamou, me deu um abraço (!) e me pediu perdão por ter tornado nossa vida tão difícil ali no prédio! Aquilo foi emocionante!!!

     Frau Hilbers visitava regularmente o túmulo dos pais. Era uma de suas "obrigações" semanais manter o túmulo limpo e esse tipo de coisa. Era também um dos temas constantes em suas conversas. Mas não se cansava de falar da loucura da vizinha "inimiga", que mantinha o túmulo da mãe iluminado à noite! E esse assunto rendia muitos minutos de "monólogo" dela!

     Me lembro da gente em casa, conversando e ela, de repente, mandando as meninas não perturbarem a gente e  falarem mais baixo! Eu só ria da cara assustada das minhas filhas olhando pra ela e... obedecendo! Uma vez ela completou a ordem me dizendo: "Quando você ficar mais velha, você vai me entender! A gente começa a ficar mais sensível com barulho e o barulho começa a incomodar e irritar a gente! Elas precisam falar mais baixo, parar de gritar quando os adultos estão conversando!" E tenho me lembrado dessa fala dela cada vez mais frequentemente...

     Após 3 anos nos chamando de Frau Hilbers pra cá e Frau De Paula pra lá, ela sugeriu que nos tratássemos pelos nossos primeiros nomes. Ela começou, então, a me chamar de Marô. Isso me encheu de satisfação, pois demonstrava uma certa liberdade dela comigo. Tínhamos, finalmente, certa intimidade uma com a outra. Mas... quem disse que eu conseguia chamá-la de Gisela??? Nunca consegui! Ela continuou sendo mesmo a Frau Hilbers! Mas ela ria e se divertia com isso também!

     Quando anunciamos que em breve voltaríamos para o Brasil, ela cismou que tinha que me ensinar a cozinhar as típicas comidas alemãs... e assim foi! Ela fazia uma enorme compra com os ingredientes necessários e marcava a hora pra eu chegar na casa dela, pra que eu cozinhasse com ela e a gente jantasse juntas! Assim fiz pela primeira vez Goulash e mais uns dois pratos típicos que já não me lembro mais... Nunca mais cozinhei nada disso aqui no Brasil, mas juro que tenho tudo anotado "tim tim por tim tim" como ela me ensinou!

     Já nos nossos últimos dias, quando precisamos nos desfazer dos móveis e pintar o apartamento, mandamos as meninas para a casa dos Nückels, amigos queridos. Trabalhávamos o dia todo pintando e arrumando o apartamento, já vazio, para entregá-lo. Nesses dias ela fez questão de nos oferecer o jantar, sabedora do nosso cansaço e fome no final do dia. Mesmo antes de darmos o dia como encerrado, ela vinha toda satisfeita dizendo "Quando quiserem, podem vir! Já está tudo pronto!". E nos deparávamos com a mesinha da sua cozinha lindamente posta pra comermos a refeição que ela mesma havia preparado! Tanto carinho havia ali naquela mesa!

     Já no Brasil, quando ligávamos no seu aniversário ou no natal, ela fazia voz de choro e sempre dizia: "Nunca mais tive vizinhos como vocês! Nunca mais! Vocês me fazem muita falta"! Uma das vezes que a visitamos quando voltamos à Alemanha, ela repetia incessantemente essa frase...

     Tantas, tantas histórias! Tanta vida compartilhada!

     Pois é...

     Ontem recebi de uma amiga da minha filha, uma reportagem do jornal da cidade (Hannover) sobre um incêndio no último dia 24 lá em Ahlem, bairro onde morávamos. O incêndio foi na rua Lohgrund, número 3... o nosso prédio! E quando vi as fotos, percebi que o fogo vinha das janelas do apartamento da Frau Hilbers... Os bombeiros a levaram ainda com vida para o hospital, mas ela não resistiu...

    Viver 76 anos para morrer dessa maneira é realmente cruel!

     É... sei que são pensamentos sem lógica que me vem à mente por estar ainda sob efeito do choque, mas mesmo assim! Me dói tanto imaginá-la ali dentro, tentando fazer algo para apagar o fogo ou para fugir dele, sem conseguir! Difícil não sentir uma pontada no coração! Difícil impedir que as lágrimas brotem! Pobre Frau Hilbers!!! Ela nos fez tão bem!

     Minha vó sempre dizia que depois de certa idade a gente tem que se acostumar com as notícias dos óbitos, que só aumentam! E fico pensando se já cheguei lá... mas "só" tenho 50!!! Entendo que o raciocínio dela tem muita lógica, mas não sei se um dia me acostumo! Perder gente querida (e animais) é difícil em qualquer tempo...

     É isso! Esses últimos dias parece que a morte resolveu se impor, dizer "Hei! A vida é bela mas estou aqui"! Dias esses nos quais tenho tido uma sensação estranha, como se sorrisse e me alegrasse num momento inadequado e sentisse o coração pesado e chorasse na hora errada. Muitas coisas poderia eu dizer... mas no momento meu coração só chora! Porém, devo declarar que me sinto muito grata por ter tido a Frau Hilbers em nossas vidas e por todo o bem que ela nos fez!

     Três "baixas" em apenas um mês! Ontem, 6 de novembro, me deparo com a lembrança de 1 mês da morte do Reve. Hoje minha família anunciou a Missa de 7o dia do meu tio e, coincidentemente, hoje também, quando me sinto tão esquisita frente a tudo isso, foi-me lembrado pela Liz Valente que faz dez anos que o Lelê, jovem amigo querido, se foi em virtude de um cancêr... (Dez anos de despedida)

     E por isso... e assim... sinto-a, a morte, rondando, ... não a mim, mas esse meu tempo...
     É esquisito lidar com ela!
     E porque sei que escrever é, entre outras coisas, terapêutico, cá estou, para afugentar os fantasmas e um pouco da tristeza do coração!
   
     E deixo-me consolar novamente (e quem sabe você também) com o maravilhoso texto  "O Enterro da Morte", cuja autoria é de um dos falecidos desses últimos dias, o Reverendo Élben César, meu querido Reve. Eu creio, como ele, que um dia, diremos juntos "Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (1Co15.55).
   
     Eu creio, que um dia "não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou" (Ap. 21.4).


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Bordado do avesso!

(Recomendo, ao final da leitura, ouvir a canção "O Tapeceiro" pra entender melhor)

     Em 2015 tive a chance de visitar a Holanda e conhecer a casa de Corrie Ten Boom, na pequena cidade de Haarlem.

     Por que visitar a casa de Corrie Ten Boom?
     A história dessa mulher e de sua família impactou-me logo no início da minha caminhada com Jesus. Um amigo deu-me para ler o livro "Refúgio Secreto", por ela escrito. O livro conta a história da família "Ten Boom", que por "dever cristão", transformou sua casa num refúgio para famílias judias fugitivas. A consequência disso pode-se já imaginar... Corrie foi a única sobrevivente da família; a única que, apesar de ter passado por todas as atrocidades de um campo de concentração, sobreviveu pra contar a história! E que bom que ela sobeviveu pois, com certeza, abençoou a vida de muitos e continua a abençoar por meio dos livros que escreveu; não são nenhum compêndio teológico ou literário, mas escritos que, com simplicidade, falam de amor e fé genuínos.
     Foi com Corrie Ten Boom que me senti, pela primeira vez, impactada pelo poder do perdão! (você pode ler sobre o que ela contou aqui: Aprendendo a perdoar)
     Me lembro bem que o que mais me impactou, enquanto lia o relato de Corrie sobre o episódio do seu encontro com um guarda do campo de concentração por onde passara, foi a rápida oração feita por ela naquele momento. Esse guarda tinha se tornado cristão e estava presente no evento onde Corrie havia acabado de pregar. Ao final do evento, aquele homem foi cumprimentá-la e estendeu-lhe a mão. Ela ficou paralizada e então orou: "Senhor, ama esse homem por meio de mim, eu não sou capaz de amá-lo!" E ao fazer essa oração, ela conseguiu estender imediatamente a sua mão ao homem que, parado com a mão estendida, esperava pelo cumprimento. E aí sim, ela conseguiu sentir, de fato, amor por aquele homem, agora feito seu irmão! Um milagre! Ainda engatinhando na fé, entendi ali que, ainda que parecesse impossível, por meio do amor do Pai, era possível, sim, perdoar! Era possível ser perdoada! E isso foi libertador!
     Me lembro também que a fé e determinação do Senhor Ten Boom, pai de Corrie, me impressionavam muito. Ele fora o responsável por fazer de sua casa um "refúgio secreto"! Me impressionava também seu paciente trabalho naquela relojoaria que me parecia, pela descrição, um local fascinante!!! Durante a leitura do livro, me lembro da sensação de querer tê-lo, ao senhor Ten Boom, como avô! (eu tinha 16 anos na época!)
     Desde então me interessei por toda essa história e, assim como quando lá pelos 12 anos, ao ler "O diário de Anne Frank", me impressionei com toda sua história, e fiquei curiosa com aquela "casa-esconderijo", me deparando mais de perto com a realidade da guerra, dos campos de concentração etc, a casa dos "Ten Boom" também despertou em mim muita curiosidade, mas com o significativo adendo de que os esconderijos lá presentes eram pra alojar, proteger, tentar salvar pessoas como Anne Frank e sua família.
     São narrativas incríveis e tocantes e, por isso, eu sempre quis conhecer essa casa, a casa onde viveram os "Ten Boon" e onde também era a relojoaria.
     A visita foi emocionante! Além de realizar um sonho de adolescente, eu ouvi uma história linda acrescida de muitos detalhes que eu não conhecia, e isso tudo dentro da própria casa, por onde a guia, tão cheia de paixão por toda essa história e de amor por Jesus (a ponto de emocionar a mim e outros turistas) nos conduziu.
     Um dos "detalhes", foi esse quadro:


     Essa foto (perdão pela qualidade!) mostra o avesso de um bordado... tudo embaralhado, um emaranhado de linhas e cores. A guia comparou esse avesso do bordado à nossa vida. Muitas linhas embaralhadas, muitas cores emaranhadas. Mas...


ao olharmos o lado direito do bordado, vemos uma outra imagem, uma coroa bem delineada, lindamente bordada. E a guia continuou: "Assim é a nossa vida. Às vezes pensamos que está tudo fora de controle, é tudo um emaranhado só, mas aí Deus nos mostra 'o lado certo', Ele nos mostra a Sua perspectiva. Esse bordado foi feito por Corrie Ten Boom e ela sempre dizia que, no final, após tantas lutas e dores, herdaríamos a 'coroa da vida', que ela tentou representar nesse bordado 'do lado certo'!"
           Corrie se deixou ser usada por Deus. Exerceu o ministério da reconciliação. Amou, de fato, "o outro" que nem conhecia, mesmo ciente dos riscos que corria e da dor que poderia causar a si mesma, como de fato aconteceu. Ela soube bem o que era luta e dor, mas não se abateu, porque sabia que herdaria a "coroa da vida".
          Pensei em tudo isso hoje porque estava eu sentada separando minhas linhas de crochê, desfazendo aquele "bololô" e, ao mesmo tempo, orando por um tio muito querido que estava se despedindo dessa vida, conversando com Deus sobre outras tristezas, quando me lembrei do bordado de Corrie Ten Boom, do encorajamento ali presente. Deus me falando por meio de um bordado! Deus me confortando no meio daquele emaranhado de linhas. E quis, então, ouvir uma canção cuja letra fala justamente sobre isso, " O Tapeceiro"... canção linda e verdadeira!!! Sempre me emociono! E quando ouço que nossas vidas "são obras de tapeçaria, tecida de cores alegres e vivas, que fazem contraste no meio das cores nubladas e tristes", quando ouço que se olhamos "do avesso, nem se imagina o desfecho", que "quando se vê pelo lado certo, muda-se logo a expressão do rosto, obra de arte pra honra e glória do Tapeceiro", meu coração estremece de alegria e esperança por pensar que também posso, com submissão, simplicidade e desprendimento, me desapegando um pouco mais de mim mesma e das minhas tão pequenas dores, servir o "outro" e "amar como Ele amou". Meu coração estremece de gratidão por ter tido a chance de um dia conhecer esse, que é meu grande e generoso Tapeceiro, e permitir que ele borde a minha vida, com todas as cores que Ele achar necessário, até quando for o momento de me mostrar o bordado do lado certo!

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Dia cinza... coração cinza...

"Dia cinza.. coração cinza...
O Reve se foi...
'O Senhor conduza o coração de vocês ao amor de Deus e à perseverança de Cristo' (2Ts 3.5)
Obrigada pelo seu exemplo de fé, amor e perseverança Reve!
Não estávamos preparados para "te perder", mas a certeza de que nos veremos na glória enche nosso coração de gratidão! Vai lá fazer o céu mais alegre e bonito com seus lindos olhos azuis! Até breve!"

Assim, com essas palavras, comecei hoje o meu dia...
Fui acordada pelo meu marido com a notícia de que o Reve, meu pastor e amigo, havia falecido...
E estou aqui a deglutir a notícia!

Reve é uma dessas raras pessoas que abrilhantam o mundo enquanto por aqui estão. Abrilhantam não no sentido do glamour e popularidade hoje tão perseguidas! Abrilhantam pela integridade e pela Luz que naturalmente emanam! É a Luz com L maiúsculo, a que vem lá do alto, do coração do Criador!
Não sei quantos crêem no que escrevi acima... na "glória", num encontro posterior, eterno após a morte, num "céu" onde viveremos eternamente em paz e sem dores ou lágrimas... 
Eu creio!
E esse homem foi uma dessas pessoas preciosas que ajudou a solidificar essa realidade e a verdade do Amor do Pai, a verdade do Céu no meu coração, na minha vida!
E esse homem foi mais um desses grandes diplomatas do céu, com direito a toda elegância, profundidade e garbo na alma, que o o Pai (no qual eu também creio e pelo qual sou transformada dia após dia!) enviou para representá-lO... e ele o fez com maestria, porque soube, acima de tudo amar a Deus acima de todas as coisas e ao seu próximo, os de longe e os de perto, os conhecidos e os desconhecidos, os importantes e os humildes, os fortes e os fracos, os ricos e os miseráveis, enfim, a cada um que cruzou (ou não) o seu caminho, ele soube amar como a si mesmo, ou até um pouco mais...

Eu creio!
E porque eu creio, há no meu coração, misturado a uma profunda tristeza pela perda de pessoa tão querida e tão especial, uma gratidão profunda e um grande consolo! Consolo porque ele descansou... estava há um mês em coma por causa de uma hemorragia cerebral. Gratidão por muitos, muitos motivos...
Um deles conto agora:
Fui vizinha do Reve por muitos anos. Morávamos num cantinho muito, muito especial em Viçosa.
Eu tinha dois pastores alemães, o Petzi e a Maninha.
Reve vivia brincando comigo porque dizia que eu não podia ser assim tão "zoófila". As pessoas importavam mais que os cachorros!
Eu ria muito e brincava de volta: "Depende, Reve! Depende da pessoa e do cachorro!"
E ele retrucava seu famoso "Ah, meu Pai! Não faça isso Marô!"
(inevitável que as lágrimas não brotem...)
O Reve, na verdade a Júnia, sua filha, tinha, na época, um cachorrinho. Ele vivia no portão lá de casa latindo brava e corajosamente para o Petzi e, podia-se notar a irritação que aquele "naniquinho" causava no meu grandão.
Um dia, fugindo do nosso quintal, Petzi disparou para o quintal do Reve e ficou perseguindo o Pretinho, até conseguir pegá-lo e literalmente, estraçalha-lo! Foi horrível, foi pavoroso tudo aquilo! Meu coração ficou em pedaços! Chorei e fiquei também com muuuuuita vergonha pelo acontecido. Não sabia como pedir desculpas, não sabia como agir...
Fui à cidade, comprei um vasinho de flores e escrevi um cartão, onde expus minha "sem-graceza", meu lamento e dando os pêsames à todos. Peguei as flores e o cartão, vesti minha cara de pau e fui até a casa do Reve falar com ele, tia Deja e Júnia. Só o Reve estava em casa. Ao me ver com as flores, já retrucou de lá: "Marô, o que é isso! Você não precisava trazer flores!". Eu, meio sem saber o que dizer: "Reve, era o mínimo que eu podia fazer pra me desculpar! Não sei o que dizer! Estou muito sem graça e triste com tudo isso!". Ele respondeu: "Não precisa se sentir assim, minha querida! Vê se pode, me desejar pêsames por causa de um cachorrinho! O cachorrinho era da Júnia e sei que ela gostava dele, mas na verdade ele era meio chatinho! Não se preocupe, essas coisas acontecem! O Petzi já está perdoado!"
Claro que, ao ver meu estado, ele optou por se portar com toda essa gentileza e amabilidade! O que, confesso, deu um certo alívio ao meu coração.
Alguns dias mais tarde, enviou-me uma "crônica" que ele havia escrito: "O dia em que Golias matou Davi"... tive que rir! E nunca mais esqueci da singeleza e da prioridade que ele deu ao meu coração doído ao relatar com certa graça todo o acontecido.
Infelizmente não consegui ainda achar a crônica nos meus arquivos, mas quando acontecer, vou publicá-la!
Quem dera eu pudesse deixar um milésimo do legado de fé, amor e perseverança que ele deixa... ou quem dera ser a minha vida um milésimo do exemplo que a dele o é, em todos os sentidos!
Obrigada, Reve! Obrigada por ter sido, por tantos e tantos anos, o Reve!!! Espelho do Amor do Pai!
Quando eu chegar aí, você me mostra se o Pretinho e o Petzi estão caminhando por aí também e se já ficaram amigos! (ouço-o gargalhando e dizendo: "quanta heresia, meu Pai!")
Vá em paz!

domingo, 2 de outubro de 2016

Era só uma baratinha...

Tinha acabado de me mudar para Belo Horizonte. O apartamento ainda estava aquele caos... como colocar uma casa de 20 anos e 250m2 num apartamento de 90m2??? Claro que acabei deixando um monte de coisa pra trás, mas ainda caculei mal... não havia espaço pra se transitar direito, ainda mais com tudo espalhado antes de encontrar seus devidos lugares.
Depois de limpar muito bem todos os armários da cozinha, resolvi que (por causa daqueles mesmo nojos bobos da crônica retrasada, aqueles que vão surgindo com o passar dos anos) ia lavar cada talher, cada vasilha, cada louça, tudo muito bem lavado antes de distribuir tudo (e a essa altura torcendo pra que coubesse!) armários afora! (pausa para reflexão profunda: "afora"... que palavra gozada! Acho que nunca havia escrito isso!)
Tive a boa ventura de ter trazido comigo e com a mudança, para me ajudarem, minha filha mais nova e meu genro, o namorado dela, aliás uma pessoa bem divertida, o tipo "peça rara"! (lá vem bronca!)
Luan (esse é o nome da pessoa divertida) quis me ajudar a lavar a louça. Aceitei de bom grado a ajuda, fiscalizando tudo, é claro, meio maníaca que sou com esse tipo de limpeza (não se preocupe, não é com tudo não! Ainda guardo um mínimo de sanidade... no caso, a mental! Rá!)
Havia um cortador de legumes manual que era todo desmontável. A lâmina ficava dentro de um compartimento que era o último a abrirmos, caso necessário uma limpeza mais profunda. Ao pegar o objeto, Luan rindo nervoso disse: "Marô, tem duas anteninhas balançando aqui!". E seguiu-se o diálogo:
- Deve ser "só" uma baratinha que veio na mudança, Lu!
(nesse momento me veio à mente uma barata enoooooorme que, ao arrumar a mudança, eu havia visto dentro de uma das caixas que eu havia pego na loja de móveis pra colocar algumas "tralhas"; barata esta que, por acaso, eu não havia conseguido matar e que depois sumira no tempo e no espaço!)
Luan, ainda tentando me sensibilizar:
- É... mas eu não gosto muito de baratas...
- Luan, você é um homem ou um saco de batatas? Deixa de ser bobo! Se ela sair daí, você mata ela!
- Tem certeza? Eu morro de nojo desse bicho!
- Pode parar de frescura, Luan! Júlia, que namorado é esse que você arrumou, que tem medo de barata? Mostra pra ele que não tem nada demais!
- Eu hein mãe! Eu morro de nojo! Não gosto nem de ver!
- Jú, "pó pará"! Não criei filha pra esse tipo de frescura não! Eu também tenho nojo, mas quando tem que matar a gente mata, uai!
- Então mata você, mamãezinha!
(Outra pausa pra explicar o cenário: Estávamos na cozinha que tinha uma porta pra área, porta essa que estava meio interrompida por um móvel e outras coisinhas no meio do caminho. A passagem da cozinha pra área, portanto, era só um buraquinho, assim mesmo se desviando de um outro pequeno móvel que andava ali por perto).
Respondendo a Júlia, eu disse:
- Ok, então! Luan, traz o cortador de legumes aqui pro tanque - disse eu me desviando de um móvel e outro em direção à area. - Você abre e balança e aí eu mato a barata.
- Ai, ai, ai... e se a barata subir na minha mão?
- Vê se deixa de frescura Luan! Assim que ela sair eu taco o chinelo nela!
Júlia então se colocou na minúscula passagem entre área e cozinha para assistir "ao espetáculo".
Luan, já rindo de nervoso, abriu devagar o tal cortador de legumes...
O que se deu após foi numa rapidez incalculável!
Ao vermos o tamanho da barata (ela era GIGANTE!!! E isso não é exagero de quem tem fobia não, gente! Acho que aquela barata tinha tomado fortificantes diferenciados!), Luan gritou mineiramente um "nussinhora" jogando o "trem" longe e eu... euzinha, jogando o chinelo pra cima e gritando "saaaai, saaaai, saaaai da minha frente", acabei empurrando vigorosamente a Júlia contra a parede pra abrir o meu caminho, saí correndo pela casa enquanto Júlia caía sentada no chão e gritava:
- Mata ela, Luan, mata ela!!!
Nessa altura, eu já não sabia se "ela" era eu ou a barata! Mas, enfim, ouvi uns tabefes meio descoordenados...  e senti um certo alívio! (Razões não me faltavam!!!)
Daqui a pouco chegam os dois na sala, onde eu, pra variar, já estava dando uma daquelas crises de riso já típicas, e Júlia ironicamente diz:
- Mato a filha esmagada na parede, mas no mesmo recinto que uma barata gigante é que eu não fico, certo mãe? É, porque eu não criei filha pra esse tipo de frescura, não! Porque quando não tem jeito a gente mata... ou sai correndo gritando "sai da minha frente"!
E Luan emenda:
- "Luan é um saco de batata!"; "Deixa de frescura, Luan!"; "Não tem nada demais! "Que namorado é esse, Ju?" E eu pergunto: que mãe é essa que quase mata a filha por causa de uma baratinha de nada...? Era "só" uma barata! Gigaaaaante, mas "só" uma baratinha!
E nós três ríamos sem parar!
Bem,  Luan matou corajosamente a barata, preciso admitir. E pra não ficar totalmente desmoralizada, preciso ainda dizer que, com certeza, se fosse mesmo uma baratinha, eu matava... claro que matava! Vocês ainda têm dúvidas?
Ah! O cortador de legumes não foi pro lixo, como sugeriu a Jú. Mas foi desinfetado e muito bem lavado e ainda o tiro de dentro do armário uma vez por ano (e num outro post posso escrever sobre a "grandissíssima utilidade" desses objetos na cozinha... e aquele que não tiver ao menos um desses em sua cozinha, que atire a primeira barata, ops, pedra!) ... mas confesso que sempre que vou usá-lo, olho pra ver se não tem nenhuma anteninha balançando.
Fui! Tenho uns legumes pra cortar...

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Crianças... sempre elas! (1)

Anne amava brócolis.
Nesse tempo ela devia ter uns 3 aninhos.
Ao voltar da escolinha, sua mãe a viu entrando e perguntou toda contente:
"Anne, adivinha o que tem pro almoço hoje?"
Anne, sorrindo e com cara de expectativa, diz:
"Não sei mamãe. O quê?"
A mãe, instigando a filha, fala só a primeira sílaba, deixando que a menina complete:
"Bró..."
Anne, mais que depressa, completa, toda feliz:
"binha"!!!

************
Dominic tinha energia que não acabava mais. Nessa época devia ter uns 3 ou 4 anos.
Seu pai sempre foi muito paciente, tranquilo. Daquelas pessoas que custam a acender o estopim.
Nesse dia, porém, Dominic estava impossível e seu pai começou a ficar um pouco bravo.
Pediu ao menino algumas vezes para obedecê-lo, mas o menino insistiu na teimosia.
O pai, então, apelou para sua autoridade:
- "Dominic, o que que você tem que fazer agora pra não levar umas chineladas?"
Esperando do garoto a resposta mais óbvia, que seria "obedecer", foi surpreendido pelo menino que, sem pestanejar, disse:
- "Sair correndo!"

*************
Estava no ponto de ônibus com minha irmã mais nova. Ia levá-la para a escolinha.
O ponto estava cheio, devido ao horário.
E ela tagarelava sem parar, chamando um pouco a atenção de quem estava do lado.
De repente ela ficou em silêncio olhando pra cima.
Fiquei esperando pra ver o que estava por vir...
De repente ela fala na maior altura, chamando a atenção e fazendo rir quem estava mais perto:
"Marô, olha o aerobú brincando de roda no céu!"

Na mesma época, levei-a ao cinema para ver aquele filme da Disney, "Fantasia", um musical no qual o Mickey é o personagem principal. No filme toca música clássica o tempo todo e personagem nenhum fala. Ela não desgrudava os olhos da tela, acompanhando cada movimento do ratinho orelhudo. Já quase no final do filme, o Mickey toca no fraque do maestro e fala: -"Ei maestro!"
Carol deu um salto na cadeira do cinema, olhou pra mim com os olhos arregalados e gritou alto, num misto de susto e felicidade:
- "Ele fala!"

***********
Vovó Juli tinha ido passar uns dias conosco em Hannover.
Júlia estava numa fase de confundir muitas palavras em português e, por isso, saía com umas frases muito engraçadas.
No dia em que a vó foi embora, ela, na época com 4 aninhos, grita do banheiro:
- "Mãe, a vovó esqueceu o fedorante dela!"

Na mesma época, do banheiro ela grita:
- "Acabou o papel nogênico!"

Ela conhecia a mãe (esta que vos escreve) pelo apelido: Marô.
Ficou surpresa quando o pai me chamou de Maria Eugênia, meu nome de batismo, pelo qual eu não era conhecida nem pela própria filha!
Pediu para o pai repetir, e depois insistiu com ele que meu nome era ou "Malô" ou "Mamãe" e não esse grande!
Meu marido, alguns dias depois, pra implicar com ela, perguntou qual era o meu nome de verdade. Ela estava mais ou menos convecida, mas parou, pensou e respondeu toda orgulhosa, já que agora ela sabia:
- " Malia Higiênica!"

***********
Depois tem mais...

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O monstro invisível das ventosas poderosas

A pessoa vai passar uns dias em Guarapari com o marido e alguns amigos internacionais. O apê foi gentilmente cedido por uma prima da mãe e é um luxo só perto do que havia sido planejado. Tem até o privilégio de ficar com a suíte.
Em frangalhos que estava, depois de bem festejar o casamento da filha mais velha, dormir por 2 horas somente, acordar no domingo para fazer sala para muita gente querida, gente essa que ainda não havia pego o caminho de volta pra casa em diferentes cantos desse nosso "Brasil Varonil" (e fica aqui uma dica da idade da pessoa... rá!), depois de levantar preguiçosamente na segunda-feira pra dirigir por sete horas ao mesmo tempo que respondia e (mal) dissertava sobre questões profundas em alemão (alemão não sabe muito conversar "borracha", nem pra colaborar com a amiga brasileira motorista pouco experimentada na estrada... Um simples e inocente comentário sobre o morro à frente pode gerar uma longa conversação sobre o aquecimento global e devidas consequências para a nave mãe! - E acreditem, queridos: fazer essas duas coisas ao mesmo tempo pode gerar um curto circuito, mesmo para o cérebro feminino! O meu quase convulsionou! Pensei até em gravar um anúncio igual àquele da dengue - "OMinistériodosTransportesadverte: discutirquestõesprofundasemalemãoécontraindicadoaodirigirnaBR101")...
Então, retomando...
...depois de fazer o reconhecimento da literalmente área, que dá vista para o mar (!!!), a criatura se dirige feliz da vida para o banheiro que, estranhamente fica por detrás da porta de um guarda-roupa (se minhas filhas ainda fossem crianças, com certeza achariam o máximo!) para renovar as forças com um bom banho quente (na cidade praiana chovia e fazia frio) e, de repente, já dentro do box e calçada, por causa dos "nojos" (bobos) que vamos adquirindo ao longo dos anos, com as legítimas que não deformam, não soltam as tiras e não têm cheiro (estou propagandística dessa vez, né? Mas esse detalhe é importante), a pessoa tem seus pés grudados nos dois tapetes de borracha que se encontravam dentro do box. Parecia que tinha sido capturada pelo monstro invisível das ventosas poderosas. Tenta movimentar um pé, consegue erguer a perna e também o tapete, que ficou grudado no chinelo. Sem entender muito o que estava acontecendo, tenta levantar o outro pé e lá vem o outro tapete junto. A pessoa, então, dá uma crise de riso sozinha dentro do box e já se percebe numa dessas muitas cenas hilárias do seu cotidiano (e nem todas são "contáveis"). Tenta novamente e... nada! O tapete não desgruda!
A criatura fica ali "curtindo o seu momento", brincando com os tapetes grudados no chinelo e rindo sozinha! Levanta um pé e lá vem o tapete junto! Levanta o outro pé e o tapete ainda grudado! Ela ri sem parar! Até que, finalmente, depois de ficar inerte numa posição razoável para se ensaboar sem se desequilibrar, o sabão faz com que os chinelos se desgrudem e ela finalmente se vê livre da armadilha! E a moça é cinquentona, creiam! Mas ainda sabe, de quando em vez, brincar que nem criança!
O banho foi relaxante sim, mas menos por causa da água quente e mais por causa da inesperada crise de riso!
A pessoa foi dormir feliz.., casamento lindo, irmã vinda direto "dos estrangêro" e de quem se tinha muita saudade, muita muita gente querida presente, festa gostosa, viagem com amigos pra se guardar do lado esquerdo do peito e, por fim, crise de riso inusitada com os pés grudados no tapete e dormir grudada (agora sim! E sem chinelos!) no marido, que já roncava sonoramente quando a pessoa conseguiu finalmente se deitar!
E viva a vida!!!

terça-feira, 17 de maio de 2016

Uma casinha em Pequeri

ou

Os desdobramentos da morte da Rosa...


ou, pra ficar mais imponente:

A herança

coautoria: Maria Ignêz Matta Camargo


Ontem publiquei um texto contando a história das Rosas!
Por causa do tal texto sobre qual Rosa teria morrido, veio uma enxurrada de comentários que me fizeram rir mais do que da história em si. Aconteceu até de minha mãe, de novo, confundir nomes e pessoas, só que dessa vez foram Virgínias e não Rosas! (vide post no Facebook)
Solucionando o mistério, minha tia Ignêz me esclareceu que foi a Rosa prima quem morreu. Pra não estragar a "graça" do texto da Rosa, digo que continuo sem saber se a Rosa, a babá, continua viva ou também já se foi dessa pra melhor, junto com a Rosa... a prima!
Bem, mas o que quero contar é que a Rosa, a prima, conforme minha bem informada tia Ignêz, deixou de herança para a família, uma (muito) pequena casinha em Pequeri, uma cidadezinha da Zona da Mata mineira, de onde vem a família da minha avó Maria, que na verdade era Antonieta!
Bem, imagine o movimento frenético do mercado imobiliário nessa pequenina cidade de pouco mais de 3.000 habitantes. Essa casinha deveria estar valendo uma "fortuna"! E a divisão da mesma entre os familiares não seria assim tão simples, dado o valor (e tamanho) do pequenino imóvel e o desproporcional tamanho da família herdeira (não caberia nem um décimo da família, provavelmente, caso alguém desse a ideia de preservar a casinha para o encontro anual da família).
O herdeiro direto da casinha seria, no caso, o tio Murilo (cujo nome de batismo é Francisco!), o único irmão vivo dos dezesseis que nasceram da união do meu saudoso e orelhudo (bisa)vô Táta (batizado Batista) com a minha (bisa)vó Iaiá (que se chamava mesmo era Maria).
(Acho que acabo de descobrir que não sou só eu que não sou conhecida pelo meu nome de batismo... é de família!!! Que mania é essa, gente???). 
Descobriu-se, porém, que os filhos dos outros irmãos do tio Antônio, o irmão da minha vó e do tio Murilo (que, como já disse, é na verdade Francisco), o mesmo tio Antônio que é pai da Rosa, a que morreu... bem, os filhos desses outros irmãos também teriam direito à casinha da prima Rosa.
Comecei a fazer as contas... só a minha vó teve sete filhos! Como uma tia minha já faleceu (tia mesmo, irmã da minha mãe, a Sussu, que na verdade se chamava Maria Consuelo!!!), a parte dela seria dividida ainda pelas 3 filhas, minhas primas. Um outro tio avô, o tio Nísio, também tem 6 ou 7 filhos e assim por diante...
Pois é! Acompanharam o raciocínio? A conta é simples: multiplique algo disso aí por 16... 
A casa não cabia nem a Rosa direito gente!!!
E por conta da Rosa, que Deus a tenha, estou dando muita risada desde ontem!

segunda-feira, 16 de maio de 2016

A Rosa morreu??!!

Que Rosa???

Cheguei em casa pro almoço e a Carol, minha irmã mais nova, já estava lá. Iam todos almoçar lá em casa naquele dia! Coisa boa a casa cheia!!!
Assim que cheguei ela disse:
- Tia Ignêz ligou e pediu pra dizer que a Rosa morreu. 
Assim, na lata... nem falou nada da Rosa ter subido no telhado ou coisa parecida. Eu, chocada, exclamei: 
- Sério???!!! A Rosa morreu??? Mas de quê, gente? Tadinha!!! Carol, mas... que Rosa?
Carol, me olhando surpresa, disse:
- Oi??? Eu sei lá que Rosa! Ela só mandou te falar que a Rosa morreu.
E eu, tentando explicar, comecei a ladainha, falando de tempos remotos... tinha a Rosa, a prima, meio doidinha, filha do tio Antônio, irmão da minha vó, e que naquela altura já estaria quase idosa. Acho que eram de Matias Barbosa, perto de Juiz de Fora. Uma vez a Rosa... e comecei a me perder no caminho.
Aí fui explicar sobre a outra Rosa, também de Matias Barbosa, que tinha sido minha babá e de quem eu gostava muito. Ela era engraçada! Uma vez a Rosa ficou torta (pausa pra gargalhada da Tati, minha irmã) e... fui me perdendo de novo!
Finalmente chegam mamãe e Murilo e sentamos todos à mesa pra almoçar. Mamãe, Murilo, Carol, Eu, Zilbinho, Lis, Júlia e Soninha, que foi meu braço direito e esquerdo por 11 anos!
Bom esclarecer que naqueles dias Carol, que é bailarina, estava ensaiando com uma coreógrafa a quem chamava de Rosinha.
Quando sentamos à mesa, perguntei pra minha mãe:
- Mãe, cê tá sabendo que a Rosa morreu?
E uma reação inesperadamente explosiva se esboçou:
- A Rosinha morreu??? Meu Deus!!! De quê, Carol???? O que aconteceu???? Gente, que coisa horrível!!!
Eu desentendida pergunto:
- Quem é Rosinha? Não era Rosa?
Aí Carol diz:
- Como que eu vou saber, mãe? Eu nem conheço! Que Rosa é essa????
- Uai? Não é a Rosinha, que está ensaiando vocês?
- Que Rosinha morreu o quê, mãe!!! Tá doida??? É outra Rosa! - respondeu a Carol.
- Que Rosa? - perguntou minha mãe de volta.
- Sei lá, mãe. A Rosinha é que não foi!
Eu disse:
- Mãe, quem morreu foi outra Rosa!
- Que Rosa?
- É isso que eu tô querendo saber! Achei que você soubesse.
- Não tô sabendo de nada! A Rosa morreu então?
- Morreu.
- Gente, tadinha!!!! Mas... que Rosa?
- Mããããe, "prestenção"!!! A tia Ignêz ligou e mandou avisar que a Rosa morreu!
- Sim, já entendi. A Rosa morreu. Mas que Rosa? 
- É isso que eu tô querendo saber, mãe. Tia Ignêz só falou que a Rosa morreu!
- Mas que Rosa????
- Então você não sabe qual foi a Rosa que morreu?
- Não! Que Rosa? A Rosa do tio Antônio??? Coitada, ela era meio doidinha, né?
- Pois é... mas e a outra Rosa? - insiti.
- Que outra Rosa? Que Rosa é essa gente????
- A Rosa, que foi nossa babá!
- A Rosa morreu??? De quê??? Tadinha!!! E a filha dela?
- Não sei de nada, mãe. Tô querendo saber!
E minha mãe continua divagando:
- A Rosa bebia muito!
- Que Rosa? - pergunto eu
- A Rosa babá!
- Não era o tio Antônio que bebia muito?
- É né?? Acho que tô confundindo...
- Ou não... Acho que ela bebia muito mesmo, me lembro vagamente dessa conversa...,mas mãe, você acha que foi essa Rosa que morreu?
- Que Rosa?
- A BABÁ mãe!
Dei uma olhada em volta e não me contive!
A Soninha, sempre tão discreta e contida, estava engasgando com a comida de tanto que ela ria. A Lis olhava pra mim e de mim pra minha mãe com a cara mais desentendida desse mundo, também dando risada. A Júlia já pronta pra dar um ultimato pra gente resolver "que Rosa" e o Zilbinho e o Murilo só balançavam a cabeça e sorriam. Aí quem deu crise de riso fui eu!
Minha mãe, num gritinho típico, diz:
- Iiiiiihhhhhh, num tô entendendo mais nada!!!
Carol dá a deixa pra encurtar a conversa:
- Gente, que conversa de doido!!! Que Rosa é essa pelo amor de Deus???????!!!!
Todo mundo disparou a rir e até hoje não sei se lamento a morte da Rosa prima ou da Rosa babá!

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(e continuo dando risada!!! kkkkkkkkkkkk)

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Claro que a história se espalhou para as outras irmãs, que adoram esse tipo de "trapalhada". Isso já faz alguns anos.
Aí, "dia desses", minha irmã, a Pati, começa a mandar áudios para o grupo da família pelo whatsapp. Mas os aúdios eram só as gargalhadas dela!
Eu estava de férias na casa da minha mãe. Escrevemos de volta perguntando o motivo de tanta risada. Ela só conseguiu gravar outro áudio assim: -"Que Rosa????"
Rimos tudo de novo!


terça-feira, 26 de abril de 2016

Poeminha "avacaiado"

Faço um poema
Despretensioso que só!
Já que poeta nunca fui.
"Ah, que dó!"

Escolho como tema 
A matéria do dia
e se esse é sem graça
Necessário será certa maestria

"Acho que num dô conta"
Diria o bom mineiro
Que as palavras embola
Com seu ritmo ligeiro

Porém, mineira não sou
Só de alma e coração
E pra dizer o mesmo
Penso outro jeito então

Qual não é minha supresa
Ao notar a coincidência
De Minas não venho, mas diria
Também sem prepotência:

"Dô conta não!
Vão dexá isso de lado
Cê num nasceu pra isso
Vai ficar avacaiado!"

Internalizei a "coisa"
E o sotaque já me domina
Apesar de quando em vez
O "s" aparecer na esquina

Não diga que não tentei
Com toda dedicação
Mas acho que prefiro mesmo
É cantar uma canção!

Assim não forço ninguém a ler
Essa clássica rima do "ão"!
E a matéria do dia?
Fica pra outra ocasião.

domingo, 24 de abril de 2016

Para Lis e Júlia, graciosos presentes de Deus!
















Uma é flor, coisa linda de se ver!
Os olhinhos sempre procuravam a essência
Não apenas a aparência.
Se fez mulher, linda mulher!
Mas continua sendo flor... a minha tão bela e doce flor de Lis!

A outra é vida, coisa linda de se ver!
A vozinha rouca sempre perguntava o porquê
Suprema curiosidade, vívida jovialidade!
Se fez mulher, linda mulher!
Mas continua sendo vida... meu fôlego de vida, minha Juju!

Privilégio meu, e só meu
Tê-las gerado!
Tê-las amamentado!
Privilégio meu (e hoje não só meu!)
tê-las!
A meu Senhor um sonoro e alto OBRIGADA!




quinta-feira, 10 de março de 2016

Casando a filha...

Quando você percebe que o mundo realmente mudou desde a época em que você se casou...


Vocabulário da cerimonialista:
                                                                                               
                                             - Espelho bisotado
                                                   - Dividir em praças
                                                        - Lágrimas da alegria
                                                             - Zibeline ou organza
                                                                      - Save the date
                                                                          -Fornecedores
                                                                             - Apoio de bar
                                                                               - Boutonnière
                                                                               - Bartender
                                                                            - Cortejo
                                                                          - Degustação
                                                                      - Dress code
                                                                   - Finger food
                                                               - Petit Gourmet
                                                            - Inspirações
                                                         - Topo do bolo
                                                       - Ilha do Buffet
                                                      - Paleta de cores
                                                      - Planilhas mil
                                                      - AutoCAD
                                                      - RSVP

                                                     - Lisianto
                                                     - Bolo fake
                                                     - Sousplat

                                                ... e outras mais!!!

Vocabulário da mãe da noiva (no caso, euzinha!):

                                        - É...                                                                            
                                        - É???                                                                    
                                        - É!!!                                                          
                                        - Sim???                                              
                                        - Sim!!!
                                        - Claro!                                                                                    
                                        - Ah tá!    
                                        - Lindo!                                                                                
                                        - Delicioso!                                          
                                        - Boa ideia
                                        - Será??                        
                                        - Não sei!
                                        - Muito bom!
                                        - Com certeza!
                                        - Não conheço.
                                        - Se vocês gostaram...                                                      
                                        - Não entendo muito...                                
                                                                         
                                        - Caro, né?
                                        - É... barato!
                                        - Tá ótimo assim!
                                        - Vai ficar lindo!
                                        - Vai ficar tudo lindo!!!

Vocabulário do pai da noiva:

- Quanto??????
- Tem certeza?????


E a filha? Parece bem feliz!!!
  
                                                     

sábado, 5 de março de 2016

Da dentista, da velhinha e do apelido com chapéu

Detesto dentista!!! Ou teria que dizer endodontista? Ou ortodontista? Sei lá... nessa época do politicamente correto acabamos ficando com medo de ofender, mesmo se a vítima formos nós por causa da ignorância dos termos, como nesse caso! Já não sei mais o que é um ou outro. E me assustei com o fato de tratar o "canal" com um, e ter que correr pra outro pra fazer a "restauração" do dente em que foi feito o canal, se bem entendi! Nunca tinha feito canal, mas antigamente era um "dentista" só que fazia tudo, ou estou enganada??? Bem, o fato é que, com certeza, detesto TODOS!
Sem histerias, ataques de nervos, tremuras ou suores frios... não! Eu me comporto muito bem e sou bem obediente, mas uma consulta com o dentista (e não vou repetir as especialidades!), deixa meu dia um pouco chato!
Mas não quero falar de dentista...
Cheguei uns dez minutos atrasada e me deparei com uma senhora e um senhor na pequena sala de espera. A senhora delicadamente me perguntou: "Você é a paciente das 11h?" e eu respondi que sim. Ela se desculpou e disse que a dentista, ops... a endodontista estava fazendo uma radiografia de urgência, se eu poderia esperar. "Claro", respondi, "sem problemas", e fiquei aguardando.
Notei que o senhor e a senhora conversavam entre eles, coisas do cotidiano, não tinham ar preocupado e apenas aguardavam. Eram gentis um com o outro.
Finalmente a pessoa que "sofria" a radiografia saiu da sala acompanhada da secretária de um lado e da dentista (que se dane a especialidade!) do outro, e o senhor imediatamente se levantou e pegou na mão dela... era uma senhorinha de 90 anos! Sim, ela estava tratando dos dentes!!! A outra senhora, me pedindo desculpas mais uma vez, entrou no consultório dizendo que não ia demorar e mais uma vez eu disse "não se preocupe".
Depois agradeci internamente a essa senhora, pois fui presenteada com uma cena que me fez esquecer onde estava e pra quê!
O senhor, que parecia o filho, saiu de mão dada com a senhorinha de 90 anos, que parecia um pouco "avariada", como dizem os simpáticos mineiros da "roça". Os dois davam passinhos minúsculos e ele demonstrava uma paciência enorme com ela. Ela vinha com um sorriso nos lábios e cantando. Eles saíram caminhando pelo corredor, sempre devagarinho, e ele cantarolando com ela a canção que ela havia escolhido. De repente ela parou e olhou pra ele com o olhar desentendido e ele, com muita paciência, falava delicadamente com ela. Parados ainda, ele começou a assoviar e ela sorriu. Ele perguntou se ela ainda conseguia assoviar, pois, dizia ele, "as grandes cantoras assoviam muito bem"! Ela fazia um biquinho e sorria! Ele acariciava seu rosto e sorria também!
Chorei!
E o que eu conseguia pensar era em como aquela senhorinha deve ter amado e claramente demonstrado amor a seus filhos. Ele parecia apenas estar retribuindo a ela todo o carinho recebido em uma vida inteira... e fazia isso com tanta paciência e amor que me emocionou! Uma cena singela! Ela tinha vida e alegria nos olhos, cantava feliz!
Eles não perceberam que eu estava observando e fotografando... (xii!!!).
Logo em seguida saiu a outra senhora do consultório, pelo que percebi também filha (ou talvez nora) e, com a mesma atitude amorosa, andou em direção aos dois e eu entrei pro meu calvário!
Fiquei sabendo que a vozinha de 90 anos estava radiografando o dente ("e que dificuldade, tadinha", disse a dentista!) pra ver se precisava de canal, como eu... e a minha tristeza foi descobrir que sim, ela iria fazer um canal no dia seguinte!
Comentei ainda emocionada com a "endodontista" que a senhorinha tinha me lembrado minha vó e ela, com o olho transbordando me disse "Pensei a mesma coisa! Perdi a minha avó no mês passado!"
E aí eu podia dissertar sobre como é bom ter avós! E de como foi bom ter uma avó igualmente amorosa e tão bem humorada como a minha. Pensei de novo em como pode ser natural a retribuição do que se recebe, relembrando um texto bíblico, em Gálatas 6.7  "...porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará". A senhorinha semeou amor, e visivelmente colheu amor! Minha vó também! E muito desse amor refletiu-se no cuidado amoroso dos filhos e netos!
Pois é, dessa vez ir ao dentista rendeu-me boas emoções, lembranças e um texto!
Em tempo: A mãe da endodontista (tenho que me comportar agora!) chama-se Maria Eugênia e, como se não bastasse, o apelido dela é Marot, porém com T no final! E aí descobri que gosto menos ainda de dentistas que têm a mãe com o apelido igual ao meu!!! E ela parece que não gostou muito também não, pois, como eu, achou que a mãe fosse a única Maria Eugênia chamada Marot na face da terra!!!
Mas meu Marô é mais simpático, pois vai com "chapeuzinho"! E viva as coincidências dessa vida! Meu dente agora está ótimo!!! rsrsrsrsrsrs