quarta-feira, 24 de abril de 2019

Empatia

Os olhos se encheram d’água.
E eu estava apenas passeando com minhas cachorras.
Era um velhinho nem tão velhinho, e assoviava uma canção.
Sua cuidadora perguntava se ele queria se sentar.
Ele murmurava e olhava para frente.
Ela continuava perguntando e insistia.
Ele não se sentou.
Olhou de novo para frente e continuou caminhando, meio trôpego, apoiado por mãos carinhosas. Ouvi então: “ah, é ali que você quer se sentar”.
Ele, resoluto, continuou caminhando e voltou a assoviar a canção.
Aquele assovio foi no fundo da minha alma!
Aquela canção soou como grito de criança feliz.
Melancolicamente feliz.
Ele não parecia ter muito senso da realidade.
Não parecia conseguir se expressar com clareza.
Não parecia reconhecer de fato as mãos cuidadoras.
Não parecia pleno de sua consciência.
Nem sei se da companhia.
Mas...

Assoviava e sorria!

Eu estava apenas passeando com minhas cachorras.
E os olhos se encheram d’água