domingo, 22 de janeiro de 2017

Quando a tragédia vira comédia.

     E porque me lembrei do síndico...
     Eu devia ter uns 14 anos. A cidade era Brasília, a que ERA "minha"! A quadra era a SQS 310, o bloco era o F e o apartamento o 507.
     Lá, no apartamento, aconteciam muitas coisas esquisitas, porém hilárias! Alguns acontecimentos foram, no entanto, tragicômicos, como o que relato agora.
     Eu estava no meio do banho, toda ensaboada, quando comecei a ouvir a gritaria. Não me abalei! Numa casa com cinco mulheres e mais algumas agregadas, gritaria era o que não faltava!
     Nesse dia a agregada era a Bel, a divertida e querida Bel! Ela estava passando uma temporada conosco e tinha ido levar minha mãe a uma farmácia pra tomar uma injeção, tamanha a grandeza da gripe dela, "tadinha"!
     A irmã mais velha andava na casa do namorado, como sempre! A irmã do meio devia estar vendo algum programa entediante na TV, junto com a Nilsa, que era nosso braço direito e esquerdo na época e que, por sinal, estava grávida de uns 8 meses! Meus cachorros, Crica e Dito, dois pequineses por nós mimados e amados, deviam estar dorminhocando na sala de TV junto com Nilsa e Tati.
     Percebi que a gritaria ficou mais séria. Abri a porta do box (porque a do banheiro sempre estava aberta quando não tinha visita!) e gritei: "Que que tá acontecendo?". Ouvi um "Tá pegando fogo!" em tom desesperado. Dei um sorriso e voltei a me ensaboar. Mas alguma coisa me dizia que dessa vez era sério... e percebi certa correria de gente dentro de casa! Saí ensaboada do box, me enrolei na toalha e corri pro meu quarto. Quando lá cheguei, vi que a parede do canto, por trás do meu armário, soltava uma fumaça esquisita. Era um incêndio? Era um incêndio!!!! Na minha casa!!! Minha reação foi sair correndo dali! Mas eu precisava colocar uma roupa! Corri no quarto da irmã mais velha, abri o armário e peguei a primeira roupa que eu vi. Para o meu azar, era um vestido que tinha um certo avental "style" (se é que isso existe!) que se enrolou no meu pescoço. Eu não conseguia me ver livre daquilo de jeito nenhum! Aquelas coisas que acontecem só quando você tem muita pressa! (Quem coloca um avental num vestido se não é pra cozinhar, gente???). No fim, consegui me ajeitar dentro do vestido que, horas depois, fui perceber que estava não só do lado do avesso, como de trás pra frente! Quando finalmente me vi vestida (pelo menos por cima!), tratei de pegar meus cachorros no colo, um em cada braço. O corpo tremia de pavor só de pensar que eles poderiam morrer queimados caso ninguém se lembrasse deles por causa da correria e do medo. Comecei a chorar só por pensar na hipótese... ou de nervoso mesmo, sei lá! Daí, me juntei à minha irmã, que já se esguelava correndo pra lá e pra cá pedindo socorro, me esguelando também e, ainda, no apoio moral (pois não poderia largar os cachorros!), à Nilsa que, mesmo com aquele barrigão, tentava  encher de água os poucos baldes que tínhamos em casa para jogar no fogo, o que, a propósito, não estava ajudando em nada! A mesma coisa fazia a minha irmã mais velha, que havia chegado e eu nem tinha percebido (ainda bem que ela nem notou que o vestido que eu mal vestia era dela!).
     De repente, alertado pelos nossos gritos agudos de desespero, rompe à porta da cozinha um muito amigo nosso, Leandro, já com o extintor de incêndio na mão, e outros dois rapazas. Avaliou rapidamente a situação e correu em direção ao quartinho da Nilsa, de onde vinha o fogo! Aos poucos o fogo foi se extinguindo. Quando me virei, a minha casa, além da grande quantidade de água no chão, estava invadida por um monte de gente desconhecida (e nesse momento senti um grande alívio de ter conseguido colocar pelo menos o vestido, ainda que totalmente desacertado - eu e os vestidos!!!). Uma dessas pessoas era um tal síndico, baixinho, de cabeça branca (se minha memória não me engana!) e que seguia a Nilsa de lá pra cá, de cá pra lá, explicando que, quando se acende uma vela, tem que ter cuidado; que existia um suporte bem baratinho do supermercado para se acender velas com mais segurança; que ela devia ficar mais atenta ao que havia ao redor de uma vela acesa; que... que... que... Vi o rosto da Nilsa ficando vermelho e ela tentando se controlar, quando percebeu um cochicho do síndico com um dos bombeiros (sim, eles chegaram depois que o fogo já tinha sido heroicamente apagado pelos nossos amigos!). Ele dizia: "É porque a dona do apartamento é desquitada!". Numa reação de fúria, Nilsa explodiu na cara do síndico: "Ah tá, porque só em casa de mulher desquitada é que pega fogo? Some daqui!" Posso não me lembrar direito se os cabelos do síndico eram mesmo brancos, mas da cara engraçada de espanto dele nesse momento eu me lembro bem!
     Pra complicar, o telefone tocou! Eu, agarrada aos meus cachorros e meio confusa com tudo, achei que não era hora de atender ninguém, mas a Nilsa correu pra atender. Era a Bel, aquela lá do começo do texto, a divertida e querida Bel que tinha ido levar minha mãe pra tomar uma injeção na farmácia.
- Nilsa, vou levar a Juli pra tomar um chopinho antes de ir pra casa. Ela está precisando de ar puro! Está tudo bem por aí?
- Tá sim, Dona Bel. Só o apartamento que pegou fogo!
      Até hoje fico tentando imaginar a reação da Bel, que, em princípio, deve ter pensado que era piada da Nilsa! Ela, então, disse que pegariam um táxi imediatamente pra casa.
     Nesse ínterim, vejo minha irmã do  meio gritando pela janela do nosso quarto, aquele mesmo que estava com a parede enfumaçada que me deu medo anteriormente:
- Chamem a Rede Globo, seus bobões (ela disse coisa pior, provavelmente, mas vamos ficar com os bobões mesmo)! Vocês ficam aí que nem um monte de urubu! Liguem pra Globo! Assim pelo menos a gente aparece na TV!!!
     Resolvi ir esperar minha mãe lá em baixo. Quando saí do elevador, vi aquela quantidade de gente em frente ao prédio, todo mundo olhando pra cima, uns com cara de assustados, outros com cara de reprovação. O táxi chegou e fui ao encontro de minha mãe que me perguntou:
- Gente, que confusão é essa aqui? Tem até bombeiro! Pegou fogo no prédio?
     Minha perna bambeou! A Bel não tinha contado nada; talvez tivesse esperança de ser só uma piadinha da Nilsa...
     Respondi:
- Sim, mãe! Pegou fogo!
- Onde?
- Lá em casa!
- O quê??? (e não esqueço sua cara gripada de pavor!!!)
     Ali acho que a gripe deu adeus ao seu corpo! Minha mãe correu pra dentro do elevador e  subiu.
     Confesso que, fora o cheiro de queimado que ficou nas minhas narinas por meses, minhas memórias vão só até aí, com exceção de notar, horas depois, a confusão que arrumei com o vestido e mais um detalhe no dia seguinte: minha mãe sentada na cabeceira da mesa, mexendo num monte de papéis e documentos e dando um grito de felicidade porque acabara de descobrir um papel de seguro contra incêndio! Yeees! No meio daquele desalento todo, minha mãe  nem se lembrava, mas havia feito anos atrás, um seguro contra incêndio para o nosso apartamento que venceria poucos dias depois dessa tragédia! Era o tal cuidado que vinha lá de cima e que a gente ainda nem tinha ideia de que existia! O que também talvez explique o bujão de gás que não explodiu, mesmo estando do lado do fogo!
     Bem, o fogo destruiu parte do quarto da Nilsa, preteou a parede do meu quarto e "nada mais"; digo, nada de mais grave! UFA!
     O que sei é que meus cachorros ficaram a salvo, o vestido/avental nunca mais quis saber de mim e nem eu dele, e o síndico, ou a lembrança dele, nos fez dar risada pelo longo tempo em que ainda comentamos sobre o incêndio!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

E viva o síndico!

     Falar mal do síndico... quem nunca?
     Aliás, o síndico é uma figura interessante!
     Na minha cabeça é um sujeito baixinho, de cabeça branca, com muita vitalidade e que se intromete em assuntos sobre os quais ninguém lhe pediu opinião. (O porquê desse estereótipo conto num outro dia!)
     Mas há também aqueles que imaginam uma senhora carrancuda, que só sabe falar brigando e que em vez de dar bom dia, vem dizendo que o pagamento do condomínio está atrasado.
     Muito poderia eu explorar sobre o tema!
     Alguém aí tem uma boa imagem pra compartilhar?
     Mariana sim!
     Vivia ouvindo sua mãe reclamar disso ou daquilo no prédio e seu pai responder sempre a mesma coisa: "Fala com o síndico! Ele resolve!"
     Se resolveu ou não alguma vez, Mariana não tem nem ideia, mas ela tinha certeza de que o síndico só podia ser um desses super-heróis que tem solução pra tudo!
     Ela não sabia a cara dele, mas o imaginava com olhos amáveis e sorriso largo, sempre pronto pra ajudar!
     Uma vez ela estava no playground com sua coleguinha, quando viu o menino do 507 cair do trepa-trepa. Todo mundo ficou assustado e ela, sem demora, disse: "Chamem o síndico!" Mas o menino não havia se machucado, e concordamos com sua mãe quando, ao consolá-lo, lhe disse: "Foi só um susto", apesar da cara amedrontada da criança! E já que estavam no playground do prédio, ninguém estranhou muito o apelo da Mariana!
     Uma outra vez, sua mãe estava ajudando numa lição de casa e ficou confusa com alguns termos do dever de ciências. A menina esperou sua mãe organizar as ideias, mas achou que estava demorando demais e rapidamente sugeriu: "Mamãe, vamos perguntar pro síndico?"
     Até que um dia, na hora do jantar, Mariana começa a se chatear gravemente com uma discussão iniciada por sua mãe, na mesa. Parece que tinha a ver com a temporada que a sogra passaria ali com eles. A discussão começou a ficar bem séria e Mariana começou a tapar os ouvidos, incomodada com tanta gritaria! Mas parece que ninguém percebeu o ato da menina... Era pra ficar feliz com a vinda da vovó ou não? Começou a ficar confusa... Até que, determinada como era, Mariana subiu na mesa, colocou uma mão pra cima e gritou também: "Parem já com isso! E estou indo imediatamente chamar o síndico!"