sexta-feira, 31 de março de 2017

O dia da Juju chegou!

     Daqui a dois dias minha filha mais nova faz aniversário. Vinte e um anos!
     Aniversário pra ela não é qualquer data. Na verdade, nem é uma data especial! A realidade nua e crua é que Aniversário da Juju é aquele dia em que o mundo tem que parar, dar parabéns pra ela e dizer o quanto ela é especial! 😉
     Mas ela o é, e por isso comecei esse texto!
     Algumas vezes, confesso, já fiquei ansiosa e talvez um pouco estressada pensando no que fazer pra que o dia não só não passasse em branco, mas também para que fosse um dia especial pra sempre! E tinha que ser o dia do aniversário de verdade e o dia da comemoração! Sempre foi assim! 😁

     Quando se é criança, nem é tão difícil. Criança tem o sorriso fácil, a gratidão por pequenas coisas é natural (inclusive dar presente pra ela era muito fácil e barato, né Juju??!!! 😆). E as festinhas eram sempre muito bem aproveitadas! Principalmente se a mamãe aqui fizesse bolo de cenoura em forma de borboleta com confete e também brigadeiro... muuuuuito brigadeiro! (É, desde muito pequena ela tem obsessão com brigadeiro, é só ver o filme do aniversário de UM aninho!).


Na adolescência, porém, não foi tããão simples. Meio de semestre, sempre época de elaborar e corrigir provas, tempo escasso e certo estresse no trabalho... e lá vinha ela com a festa (ou o "evento", se preferir!) toda planejada e com as tarefas todas que me cabiam! Mas vê-la sorrindo e feliz, comemorando a vida com amigos e família era sempre um presente que eu ganhava no dia que era dela!
     Hoje ela não é mais criança nem adolescente, amadureceu; está um pouquinho menos "exigente", contudo não menos especial!
     Sempre foi muito espirituosa, engraçada, divertida, geniosa, determinada, intensa! Talvez por isso, nada era simples nunca!😜 Quando ria, tinha ataque de riso. Quando chorava, tinha crise de choro! Como dizia a professora do jardim de infância na Alemanha: "Sie hat viiiiiel Temperament! Es kommt alles aus dem 'Bauch'!" Bem, não vou nem tentar traduzir. Ao pé da letra inclusive faz pouco sentido, mas é mais ou menos o seguinte: "Ela tem muita personalidade! Age com intensidade pra tudo!"; e olha que a criaturinha tinha só 3 anos!
     Depois da Juju, o dia a dia realmente se tornou nada comum. Ela sempre tinha algo especial a acrescentar, que fosse uma birra (!) ou uma surpresa que ela mesma teria preparado pra mim! Eu a vi crescer com muita alegria e com uma satisfação inexplicável dentro de mim!
   
 Hoje ela é uma mulher! Uma linda mulher! Ainda mais determinada e muito consciente do seu entorno. Claro que, como mãe, meu peito se enche de orgulho ao percebê-la tão madura, tão dona de si, tão esforçada nas suas responsabilidades e tão pronta a servir. Não digo que não tenha fraquezas, todos as temos! Não digo que não dê passos em falso aqui e ali, quem nunca não os deu? Mas no meu coração, o que percebo é uma gratidão enorme por tê-la na minha vida e um amor indizível, sem tamanho! Quem é mãe sabe!
     Hoje li uma frase em um texto, por sinal muito sensível, da Mari Furst Viza que me fez pensar em tudo isso - "o pequenino grão me trouxe para fora, quando, na verdade, fui eu que lhe apresentei a vida" - (você pode ler o texto na íntegra clicando aqui: Semente).
     O grãozinho que a Juju foi, me trouxe "pra fora", me deu mais vida, quando na verdade, fui eu quem lhe apresentei a vida.
     Hoje ela não é mais apenas grão, ela é planta robusta, regada com muito amor nosso e do Pai! O mesmo Pai no qual ela crê e com quem fez uma aliança. Seu amigo maior! Hoje ela é a Júlia, que se preocupa com o outro e, com sensibilidade, acolhe o mais fraco. Que tem amor no olhar, no abraço e no afago! Mas nunca vai deixar de ser a "minha Juju", de voz rouquinha e gargalhada solta! Minha Juju beijoqueira, consoladora (Juju Trösterin!), que gosta de abraço e cafuné!
     Lendo o diário que fiz de sua infância, me emocionei quando li uma de suas histórias, que resume um pouco da simplicidade, alegria, vitalidade e energia ainda tão presentes na minha menina. Eu escrevi:

"Ju está com dois aninhos. Brincando com o papai na areia, olhou pra cima, toda satisfeita e gritou alto e gostoso: 'Bigada Jesus'!"

     É isso! Obrigada Jesus, pela vida! Pela minha Juju! Por nos ter feito mãe e filha!
     Te amo, amor da mamãe!

domingo, 5 de março de 2017

O Cabeça Branca, o bebê Davi e o Sabiá que virou canção

        Esses dias, foi postado no facebook pela Liz Valente, artista multitalentosa, sensível e que eu amo muito, um lindo vídeo (que eu compartilhei), com a canção "Sabiá". Ver o vídeo me trouxe de volta várias emoções e sentimentos e por isso resolvi escrever pra desafogar.
        A filha mais velha, Lis (sim, o nome é igual, só que a "minha" Lis é com "s"! 😉), tinha se casado há alguns dias. Uma festa linda, muita alegria e agora estávamos curtindo a companhia de amigos que tinham vindo de muito longe pra celebrar conosco.
        O cenário: Inhotim, um museu de arte a céu aberto nas montanhas de Minas.
        A companhia: a melhor possível.
        O dia: sete de setembro, feriado. Um dia agradável, sem muito calor, boas conversas e muita coisa bonita pra ver e mostrar.
        Eu ainda meio fraca, me recuperando de uma cirurgia recente, andando devagar, sentando de tempos em tempos, mas feliz... muito feliz com tudo!
        O celular do meu marido tocou... era minha filha mais nova, Júlia, e a notícia era preocupante: O Reve (reverendo Élben César) tinha sofrido uma queda em casa e batido a cabeça. Parecia sério. Ela ainda não sabia muita coisa, mas ia procurar se informar e nos daria notícias ao longo do dia. Ligou pra que pudéssemos estar juntos em oração.
        Continuamos nosso passeio, mas o coração agora estava meio apertado... quão sério seria?
        Os amigos queridos entenderam nossa preocupação. Fizemos algumas orações durante a caminhada, assim desse jeito mesmo, alto, falando uns com os outros. Eles conheceram o Reve e também entendiam o espaço que ele ocupava no nosso coração.
        Júlia ligou mais algumas vezes e às ligações dela somaram-se mensagens de gente amiga nos dando mais um e outro detalhe, mas sem muitas novidades. (No fim daquele dia soubemos que o Reve seria transferido pra Belo Horizonte e que ele estava inconsciente).
        No final do dia, quase saindo do parque, meu marido Zilbinho estava mais à frente com as "crianças" (que já são adultas), o Markus um pouco atrás deles e eu e Dörte indo mais devagar, contemplando o dia que se despedia de nós. Íamos conversando sobre essas esquisitices da vida, sobre esses acontecimentos inesperados, as surpresas nos caminhos traçados por nós... e foi quando ouvimos um canto! O canto era forte, definido, determinado, mais um acontecimento inesperado! Desviamos o olhar do pôr do sol e ficamos as duas olhando pra cima tentando ver de onde viria o canto... e de repente vimos, lindo e majestoso, o Sabiá pousado num alto galho de uma árvore, bem acima de nós. Ficamos ali, sem dizer palavra, só ouvindo, maravilhadas! Markus veio se achegando, também maravilhado!
        Aquele sabiá sabia! Sim, ele sabia! E estranhamente eu me sentia confortada com aquele canto...
        Saindo do "êxtase" do momento, Dörte se pôs a assoviar a melodia, tentando imitar o sabiá. Fomos de encontro aos outros, Dörte ainda assoviando e Zilbinho já com o celular preparado pra gravar aquele assovio, ouvindo de longe o sabiá.
        Claro que a melodia virou canção! Ganhou algumas frases avulsas, enquanto no decorrer da semana íamos recebendo as notícias sobre o Reve. E a dor maior era pensar que, se ele realmente partisse, se Deus realmente achasse por bem levá-lo, ninguém teria se despedido dele... e nem ele de ninguém! Pensamento estranho aquele!
        Zilbinho pediu a ajuda da Liz, que já ia no seu último mês de gestação, pra escrever a letra. Ela, com certeza, teria muito a dizer, inspirada pela chegada de uma vidinha sua, embalada pelo amor de Deus por ela ao lhe conceder a segunda chance de ser mãe.
        E ficou aquele paradoxo no ar...
        O Davi nasceria em poucos dias! E o Reve?
        E a letra da canção, então, surgiu...
        O Davi nascia, o Reve aos poucos partia...
        Muita alegria... muita dor... muita presença e vida... muita ausência e saudade... todos os sentimentos de uma intensidade indizível e de uma contradição constrangedora!
        Nossas mãos e corações se uniam em oração!
        Lembrávamos da cisma do Reve em escrever a lápis, não se rendendo nem à maquina de escrever antes e nem ao computador depois, e isso nos fazia sorrir com ternura. Pensávamos em sua insistência em dividir o Amor de Jesus com cada um que cruzava seu caminho, o que nos reportava ao lema que adotou quando fundou "o jornal" (hoje revista e editora!) Ultimato: "Busquem o Senhor enquanto é possível achá-lo". Ele tinha coração sensível e mente inquieta, no bom sentido! E eu pensava: "Que bom! Que bom que ele sempre quis dividir isso com todos! Que bom que ele escreveu tanto! Que bom que ele não fez pouco caso do dom que Deus lhe deu!"
        E pensávamos no Davi, aquele serzinho já se preparando pra ver a luz do dia, já em posição de querer conhecer de perto aquelas vozes que com certeza já ouvia. O Davi, irmão do João "Valentim". E eu pensava: "Deus é bom!" Oramos por aquelas crianças antes de elas existirem! Acho que Liz e Pedro Paulo nunca duvidaram, apesar de algumas circunstâncias adversas e de alguma espera. E aí estavam eles: o João, já aprontando deliciosamente do lado de fora, e o Davi, pronto pra vir fazer companhia pro irmão, pra começar uma linda aventura como parte da família Valente.
        E assim foi!
        Davi nasceu às 15:40 do dia 5 de outubro de 2016. O Davi, o novo vizinho do Reve e tia Deja, morador da casa recém construída ao lado da deles. O Davi, filho do Pedro Paulo e da Liz; Liz, que desde que nasceu tanto aprendeu com o "cabeça branca", a Liz , filha do Delly e da Luci, os desbravadores do bairro Cidade Jardim, onde hoje todos moramos (eu e Zilbinho também, ainda que fora por uma temporada), bairro onde o Reve morou por mais ou menos 20 anos.
        O Reve se foi no dia 06 de outubro de 2016, à 01h08 da manhã. O Reverendo Élben, o "nosso" Reve, o pastor amigo, aquele que sempre nos desafiava a sermos amigos íntimos de Deus, o Reve, visionário e pronto pra servir, O Reve que nos fazia rir muito com as suas "trapalhadas" linguísticas, o Reve que amava a "Deja bandeja" e espontaneamente demonstrava que o casamento é uma aventura que vale muito a pena, o Reve que amava as estatísticas "a serviço do Reino", o Reve que nos constrangia com seu exemplo de fé e simplicidade, o Reve...
        O coração estava oficialmente dividido: tristeza e alegria faziam uma dança louca no meu coração! Mas no meio disso tudo, de uma forma que não sou capaz de descrever, de explicar, havia muita paz e gratidão!
        A paz, creio, era fruto da certeza do encontro do Reve com o Pai, que Ele tanto amava e a quem serviu tão piedosa e apaixonadamente por 86 anos. A gratidão era por esses 86 anos, em TODOS os sentidos!
        A paz vinha também de pegar o pequenino Davi no colo e sentir a serenidade no bater do seu coraçãozinho, na sua respiração rápida de recém-nascido, na sua entrada pra linda aventura da vida. A gratidão pelo nascimento do Davi, tão esperado, tão amado, em meio a uma família que tem o carimbo do amor do Pai.
        E no meio disso tudo, essa canção, "Sabiá", que estranhamente continua me confortando, ainda que faça as lágrimas brotarem quando a ouço.
        Não mais tristeza, ficou a paz e a gratidão.
        Na rua A do bairro Cidade Jardim,  não veremos mais o Reve de bermuda, papéis e livros na mão (sempre!), caminhando com seu jeito peculiar, indo em direção à Ultimato.
        Na rua A do bairro Cidade Jardim veremos o Davi correndo, andando de bicicleta e jogando bola com o João, que já vai desbravando o espaço com muita energia.
        E assim a(s) vida(s) segue(m) seu caminho...
        Com vocês, a canção Sabiá (e, no final do vídeo, a Rua A!)

(Eis o pequeno Davi no colo de sua vizinha, para ele a Vó Deja, numa foto feita por Liz, sua mãe:)