segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Bordado do avesso!

(Recomendo, ao final da leitura, ouvir a canção "O Tapeceiro" pra entender melhor)

     Em 2015 tive a chance de visitar a Holanda e conhecer a casa de Corrie Ten Boom, na pequena cidade de Haarlem.

     Por que visitar a casa de Corrie Ten Boom?
     A história dessa mulher e de sua família impactou-me logo no início da minha caminhada com Jesus. Um amigo deu-me para ler o livro "Refúgio Secreto", por ela escrito. O livro conta a história da família "Ten Boom", que por "dever cristão", transformou sua casa num refúgio para famílias judias fugitivas. A consequência disso pode-se já imaginar... Corrie foi a única sobrevivente da família; a única que, apesar de ter passado por todas as atrocidades de um campo de concentração, sobreviveu pra contar a história! E que bom que ela sobeviveu pois, com certeza, abençoou a vida de muitos e continua a abençoar por meio dos livros que escreveu; não são nenhum compêndio teológico ou literário, mas escritos que, com simplicidade, falam de amor e fé genuínos.
     Foi com Corrie Ten Boom que me senti, pela primeira vez, impactada pelo poder do perdão! (você pode ler sobre o que ela contou aqui: Aprendendo a perdoar)
     Me lembro bem que o que mais me impactou, enquanto lia o relato de Corrie sobre o episódio do seu encontro com um guarda do campo de concentração por onde passara, foi a rápida oração feita por ela naquele momento. Esse guarda tinha se tornado cristão e estava presente no evento onde Corrie havia acabado de pregar. Ao final do evento, aquele homem foi cumprimentá-la e estendeu-lhe a mão. Ela ficou paralizada e então orou: "Senhor, ama esse homem por meio de mim, eu não sou capaz de amá-lo!" E ao fazer essa oração, ela conseguiu estender imediatamente a sua mão ao homem que, parado com a mão estendida, esperava pelo cumprimento. E aí sim, ela conseguiu sentir, de fato, amor por aquele homem, agora feito seu irmão! Um milagre! Ainda engatinhando na fé, entendi ali que, ainda que parecesse impossível, por meio do amor do Pai, era possível, sim, perdoar! Era possível ser perdoada! E isso foi libertador!
     Me lembro também que a fé e determinação do Senhor Ten Boom, pai de Corrie, me impressionavam muito. Ele fora o responsável por fazer de sua casa um "refúgio secreto"! Me impressionava também seu paciente trabalho naquela relojoaria que me parecia, pela descrição, um local fascinante!!! Durante a leitura do livro, me lembro da sensação de querer tê-lo, ao senhor Ten Boom, como avô! (eu tinha 16 anos na época!)
     Desde então me interessei por toda essa história e, assim como quando lá pelos 12 anos, ao ler "O diário de Anne Frank", me impressionei com toda sua história, e fiquei curiosa com aquela "casa-esconderijo", me deparando mais de perto com a realidade da guerra, dos campos de concentração etc, a casa dos "Ten Boom" também despertou em mim muita curiosidade, mas com o significativo adendo de que os esconderijos lá presentes eram pra alojar, proteger, tentar salvar pessoas como Anne Frank e sua família.
     São narrativas incríveis e tocantes e, por isso, eu sempre quis conhecer essa casa, a casa onde viveram os "Ten Boon" e onde também era a relojoaria.
     A visita foi emocionante! Além de realizar um sonho de adolescente, eu ouvi uma história linda acrescida de muitos detalhes que eu não conhecia, e isso tudo dentro da própria casa, por onde a guia, tão cheia de paixão por toda essa história e de amor por Jesus (a ponto de emocionar a mim e outros turistas) nos conduziu.
     Um dos "detalhes", foi esse quadro:


     Essa foto (perdão pela qualidade!) mostra o avesso de um bordado... tudo embaralhado, um emaranhado de linhas e cores. A guia comparou esse avesso do bordado à nossa vida. Muitas linhas embaralhadas, muitas cores emaranhadas. Mas...


ao olharmos o lado direito do bordado, vemos uma outra imagem, uma coroa bem delineada, lindamente bordada. E a guia continuou: "Assim é a nossa vida. Às vezes pensamos que está tudo fora de controle, é tudo um emaranhado só, mas aí Deus nos mostra 'o lado certo', Ele nos mostra a Sua perspectiva. Esse bordado foi feito por Corrie Ten Boom e ela sempre dizia que, no final, após tantas lutas e dores, herdaríamos a 'coroa da vida', que ela tentou representar nesse bordado 'do lado certo'!"
           Corrie se deixou ser usada por Deus. Exerceu o ministério da reconciliação. Amou, de fato, "o outro" que nem conhecia, mesmo ciente dos riscos que corria e da dor que poderia causar a si mesma, como de fato aconteceu. Ela soube bem o que era luta e dor, mas não se abateu, porque sabia que herdaria a "coroa da vida".
          Pensei em tudo isso hoje porque estava eu sentada separando minhas linhas de crochê, desfazendo aquele "bololô" e, ao mesmo tempo, orando por um tio muito querido que estava se despedindo dessa vida, conversando com Deus sobre outras tristezas, quando me lembrei do bordado de Corrie Ten Boom, do encorajamento ali presente. Deus me falando por meio de um bordado! Deus me confortando no meio daquele emaranhado de linhas. E quis, então, ouvir uma canção cuja letra fala justamente sobre isso, " O Tapeceiro"... canção linda e verdadeira!!! Sempre me emociono! E quando ouço que nossas vidas "são obras de tapeçaria, tecida de cores alegres e vivas, que fazem contraste no meio das cores nubladas e tristes", quando ouço que se olhamos "do avesso, nem se imagina o desfecho", que "quando se vê pelo lado certo, muda-se logo a expressão do rosto, obra de arte pra honra e glória do Tapeceiro", meu coração estremece de alegria e esperança por pensar que também posso, com submissão, simplicidade e desprendimento, me desapegando um pouco mais de mim mesma e das minhas tão pequenas dores, servir o "outro" e "amar como Ele amou". Meu coração estremece de gratidão por ter tido a chance de um dia conhecer esse, que é meu grande e generoso Tapeceiro, e permitir que ele borde a minha vida, com todas as cores que Ele achar necessário, até quando for o momento de me mostrar o bordado do lado certo!

6 comentários:

  1. Viajei mais uma vez no sei texto, voltei pra pequena Haarlem, vi o Refúgio não mais secreto, voltei no tempo e me vi lendo esse livro que me impactou na adolescência, voltei pra dentro de mim, na minha pressa em ver o bordado do lado certo, antes de terminar a tapeçaria, voltei no Som do Céu e vi o Stenio e seu violão... Como é bom viajar!

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  2. Eu tb viagei no seu texto!! Não conheci a casa dela, mas como vc li o livro na adolescência no começo de minha caminhada com Jesus.
    Quando a APEC publicou a história comprei e contei na IPV. Foi um prazer pra mim!!Um verdadeiro deleite espiritual!!!
    Hoje no dia de ações de graças, dou graças ao Senhor por todos que aqui já passaram e deixaram um testemunho de fé tão lindo quanto o deles. Toda hora e glória ao Leão de Judá, que está vivo!!! Bjos

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    1. E que a gente passe tendo também exalado o doce perfume de Cristo, né? bjs

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  3. Lindo reflexão, Marô! Que possamos viver segundo a Graça do Tapaceiro. Grande beijo!

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